Cem dias de Doria terão marginais, chuva e fila de exames como desafios

GIBA BERGAMIM JR. – FOLHA DE S. PAULO

Aumentar as velocidades nas marginais Tietê e Pinheiros, zerar a fila para exames médicos, evitar alagamentos que travam a cidade no verão, implementar um novo programa de zeladoria e definir um plano oficial de metas a serem cumpridas até 2020 são os principais desafios do novo prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), nos primeiros cem dias da gestão iniciada neste domingo (1º).

As medidas fazem parte de promessas de campanha formalizadas durante o governo de transição, entre outubro e dezembro, quando passou a receber informações da administração do agora ex-prefeito, Fernando Haddad (PT).

Nesta segunda (2), vestidos de gari, Doria e seus novos secretários fizeram uma espécie de mutirão de limpeza para dar início à primeira das promessas: a operação Cidade Linda, que começa no centro expandido e inclui limpeza de ruas, remoção de pichações e retirada de camelôs ilegais.

Com frases de efeito como "não vai ter moleza", Doria diz que a meta com a operação é resgatar a autoestima da cidade. O projeto será estendido às periferias.

Para isso, porém, o prefeito deve esbarrar no crescente número de moradores de rua no centro expandido.

Medida semelhante foi implementada pela ex-prefeita Marta Suplicy (então no PT e hoje no PMDB) em 2001, com o nome de Operação Belezura. À época, a iniciativa falhou especialmente nos extremos da cidade, onde se via entulho nas vias dias após a passagem das equipes.

Doria assume em pleno período chuvoso, e prevenir os impactos dos temporais é outra promessa que ele terá que cumprir de imediato.

O prefeito anunciou na última semana um plano de ação que vai da troca de semáforos falhos à instalação de sensores em bueiros que identificam resíduos.

A primeira das medidas foi feita pela gestão passada, que alega ter reduzido as panes. São comuns, porém, semáforos apagados em importantes vias do centro após chuvas.

As equipes de Doria precisarão agir para retirar pessoas de áreas de risco de alagamentos, como ocupações no entorno de córregos e terrenos que sofrem deslizamentos.

Nesses primeiros cem dias, a mais controversa e emblemática das ações da equipe de Doria será o aumento da velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros, medida considerada por engenheiros de tráfego, consultores em transporte e cicloativistas como retrocesso na política de controle da violência no trânsito implementada na gestão Haddad.

A partir do dia 25, as velocidades saem dos atuais 50 km/h na pista local, 60 km/h na central e 70 km/h na expressa para 60 km/, 70 km/h e 90 km/h, respectivamente. Apenas a primeira faixa da local será mantida em 50 km/h, em um ajuste na promessa inicial feita pelo tucano.

Doria estará sob pressão, já que a marginal Tietê, por exemplo, completou 19 meses sem registrar nenhuma morte por atropelamento.

O prefeito também aposta na iniciativa privada para cumprir outra promessa: zerar a fila de exames na rede de saúde. São 417 mil a serem realizados de imediato.

Para isso, deve começar na segunda semana de janeiro o programa Corujão da Saúde, no qual hospitais e clínicas privadas, em convênio com a prefeitura, abrem suas portas para exames em horários ociosos, como final de tarde e início de noite. O custo deve ser de R$ 17 milhões.

Nessas primeiras semanas, Doria deve fazer reuniões com vereadores, promotores de Justiça e conselheiros do TCM (Tribunal de Contas do Município) para propor revisões na PPP (parceria público-privada) da iluminação e elaborar os editais para a privatização do Anhembi e do autódromo de Interlagos.

O novo prefeito também terá que iniciar negociações com a Câmara para eventuais mudanças no Orçamento da cidade, de R$ 54,5 bilhões. Por lei, ele tem 120 dias para, por exemplo, realocar receitas.

Também terá que negociar com empresários de ônibus subsídios para bancar o congelamento da tarifa. A diferença entre o arrecadado com as passagens e o que deve ser pago às viações deve chegar à casa dos R$ 3 bilhões em 2017.

Por fim, até 90 dias após o início da gestão, Doria terá que apresentar o plano oficial de metas, com diretrizes e projetos da administração, conforme previsto em lei. O programa é a base para acompanhar se as promessas serão cumpridas até 2020.

Confira os principais desafios de Doria em seus primeiros meses na prefeitura

Mudanças no Orçamento
Por lei, o prefeito tem 120 dias pararever o Orçamento da cidade para 2017. Ele pode, por exemplo, realocar receitas para projetos específicos da administração. Também terá que negociar com empresários de ônibus pagamentos de subsídios para bancar o congelamento da tarifa comum de ônibus.

Moradores de rua
A nova gestão prevê o programa de zeladoria Cidade Linda – que foi iniciado nesta segunda (2) na av. Nove de Julho e inclui limpeza e reparo de muros pichados –, mas deve esbarrar no crescente número de moradores de rua no centro expandido, que não poderão ser removidos.

Fila da saúde
O prefeito promete zerar a fila de exames da rede municipal em um ano. Para isso, dará início na próxima semana ao programa Corujão da Saúde, que prevê parcerias com hospitais privados para realização de exames em horários ociosos de atendimento, como fim de tarde e início de noite. O custo deve ser de R$ 17 mi.

Velocidade nas marginais
No dia 25, Doria aumentará os limites na Tietê e na Pinheiros para 60 km/h nas pistas locais, 70 km/h nas centrais e 90 km/h nas expressas. Só a faixa da direita da local será mantida em 50 km/h. A partir desta segunda (2), serão iniciadas ações como melhorias viárias e instalação de placas. Especialistas acreditam que haverá um aumento no número de acidentes e mortes.

Definição do plano de metas
Até 90 dias após a posse, o novo prefeito terá que apresentar o plano de metas, com diretrizes e projetos de governo para o mandato. O programa serve para que se acompanhe e avalie o trabalho dos prefeitos durante a gestão.

Chuvas de Verão
Doria assumirá o controle no auge da temporada de chuvas, e problemas como falta de luz e queda de árvores devem continuar. Segundo sua equipe, a prioridade nesse primeiro momento será intensificar a limpeza de bueiros, bocas de lobo e galerias. Grandes obras como piscinões só deverão ser iniciadas a médio e longo prazos.

Matéria publicada na Folha de S. Paulo.
 

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