Crise da água – Calor atípico e seca agravam crise em SP

Em medição da USP, capital teve temperatura mais alta (36,1º C) desde 1933; outubro deve seguir sem chuva. Massas de ar quente impedem as chuvas de atingirem as regiões necessárias para elevar nível do Cantareira.

Por EDUARDO GERAQUE, da Folha de S. Paulo.

Termômetros acima do padrão, umidade em baixa, previsão de mais um período prolongado de estiagem. Em meio à maior crise hídrica de São Paulo, as notícias não poderiam ser piores.

A temperatura nesta segunda-feira (13) na capital paulista ultrapassou o patamar histórico para a primavera.

Em Santana, zona norte, a estação oficial do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), que faz a medição considerada a oficial de São Paulo, registrou 35,9°C. É a terceira temperatura mais alta para um mês de outubro desde 1943, quando a série histórica teve início.

Trata-se da temperatura mais alta da primavera até agora, e a quarta maior deste ano. Só três dias seguidos em fevereiro atingiram temperaturas maiores.

Já a estação do IAG/USP, na zona sul, registrou ontem a temperatura de 36,1°C, a maior desde 1933, incluindo todas as estações do ano.

O calor atípico deixa o quadro da crise hídrica mais grave –nesta segunda, o volume das represas do Cantareira chegou a 4,7%, novo recorde.

Massas de ar quente, como a que está estacionada sobre São Paulo, impedem a entrada de frentes frias vindas do Sul onde é mais urgente a necessidade de chuva.

Para alimentar o Cantareira é preciso chover ao norte da Grande São Paulo, como na região de Atibaia.

Não bastasse o calor fora da curva, a umidade do ar baixa faz piorar a sensação de abafamento na cidade.

Há seis dias, a umidade relativa do ar em São Paulo tem ficado entre os 18% e 30%.

Calor e ar seco ressecam as narinas, aumentam a proliferação de vírus e afetam principalmente crianças e idosos.

Na Grande São Paulo, desde o final de semana, existe outro agravante: a poluição do ar, que, de acordo com a classificação da agência ambiental de São Paulo, a Cetesb, estava "muito ruim" nesta segunda e chegou ao inédito nível "péssimo", no sábado.

Desde que os padrões da qualidade do ar ficaram mais rígidos na capital, há um ano e meio, nunca a poluição havia sido classificada como péssima pelo órgão oficial.

O poluente ozônio, um gás venenoso em altas concentrações, ficou em níveis alarmantes tanto na Cidade Universitária (zona oeste) quanto em todo parque Ibirapuera (sul).

Nesta segunda, as duas regiões ainda tinham o ar "muito ruim", classificação também obtida nas medições em Interlagos (zona sul), Itaquera (leste) e Santana (norte).

Para piorar, as previsões dos meteorologistas para os próximos dias não são boas. Segundo Graziella Gonçalves, da Somar, as temperaturas altas devem seguir até ao menos a segunda (20), sem chuva. Nesta terça (14) à noite, uma frente fria sobre o litoral trará mais umidade para a capital.

Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.
 

 

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