Lições da Suécia – artigo de Oded Grajew

Sucesso do país se deve a consensos na vida pública

Fui convidado pelo governo sueco para visitar o país. Sempre quis conhecer com mais detalhes o que fez a Suécia estar há vários anos entre os primeiros colocados no mundo nas áreas social, econômica ambiental e ética, tendo sido um país paupérrimo no início do século passado.

Realizamos visitas intensas a ministérios, órgãos governamentais e não governamentais. Quando perguntados sobre as razões pelas quais a Suécia chegou aonde chegou, a resposta quase unânime era: nós conseguimos acordar alguns consensos.

O mais importante foi a compreensão de que, para desenvolver o país de forma harmônica e sustentável, é necessário reduzir as desigualdades e estabelecer relações sociais calcadas na confiança.

Como decorrência, políticas públicas e do setor privado são orientadas a reduzir as desigualdades econômicas, territoriais, etárias, de gênero e de raça. O sistema fiscal e tributário arrecada mais de quem ganha mais ,e os investimentos públicos direcionam os recursos prioritariamente para os segmentos sociais e territórios mais necessitados.

Recursos públicos garantem educação e saúde de qualidade para todos. A educação é obrigatória até a universidade, e os universitários podem receber recursos a fundo perdido que lhes garantam a manutenção até o fim do curso.

A participação das mulheres é um dos principais eixos dessa visão de inclusão social. São maioria na política e nos órgãos governamentais. A primeira infância é tratada com grande prioridade, expressando o cuidado com a futura geração.

A licença-maternidade é de 14 meses, dos quais o pai deve cumprir o mínimo de três. As empresas procuram colocar limites para a diferença entre os maiores e menores salários. Uma agência independente governamental acompanha e propõe medidas para reduzir as desigualdades nos governos e no setor privado.

Os índices de confiança entre as pessoas e as organizações públicas e privadas são muito altos graças a uma total transparência e estabelecimento de amplos espaços de participação nos governos e nas empresas. Trabalhadores e empresários têm um interesse comum: o sucesso da empresa.

Os trabalhadores participam dos órgãos de gestão, e todas as decisões, inclusive o destino dos lucros, são tomadas de comum acordo. Responsabilidade e benefícios são consensuados e, por isso, praticamente não há greves.

A política não é vista como profissão, mas como oportunidade de servir a comunidade. As mordomias são mínimas, vereadores não ganham nenhuma remuneração. São muito poucos os cargos de confiança indicados pelos políticos. As políticas públicas são tocadas por funcionários de carreira que servem sucessivos governos. Não existe foro privilegiado, aposentadorias especiais etc. Os políticos pedem demissão de vergonha ao menor deslize ético.

A consciência ambiental é altíssima. Os objetivos do desenvolvimento sustentável com metas até o ano 2030 orientam todas as ações do governo, sob a responsabilidade do ministro da economia.

Maciços investimentos em pesquisas, em que universidades, governos e empresas cooperam, garantem excelência tecnológica e competitividade internacional.

Foram muitos os aprendizados da viagem. Apenas alguns estão aqui relatados. A pergunta angustiante que me ficou foi: quanto tempo ainda levaremos para chegar aos consensos que possam tornar o Brasil (um dos campeões mundiais das desigualdades e onde índices de confiança nas instituições são baixíssimos) um país próspero e justo?

Oded Grajew
Conselheiro da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis, presidente do Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil e presidente emérito do instituto Ethos; idealizador do Fórum Social Mundial

Artigo publicada no espaço Tendências/Debates da Folha de S. Paulo

Ouça entrevista sobre o tema de Oded Grajew e Jorge Abrahão, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, à Rádio CBN: Pesquisas demonstram que os brasileiros têm pouca confiança nas instituições políticas 

 

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