Novo secretário da Educação de Alckmin adota tom conciliador

POR THAIS ARBEX – FOLHA DE S. PAULO

Ex-presidente do Tribunal de Justiça de SP, José Renato Nalini, 70, assume a Secretaria de Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB) com um discurso de conciliação.

Após recentes embates do Estado com alunos e professores, ele foi anunciado nesta sexta-feira (22) como substituto de Herman Voorwald, que deixou a pasta em dezembro em meio ao desgaste com as ocupações de quase 200 colégios –promovidas contra a reorganização da rede.

"Vamos começar com muito diálogo, ouvindo a todos. Quero falar menos e ouvir bastante. Todos serão chamados colaborar", disse Nalini em entrevista à Folha. "Queremos retomar o status que as escolas públicas de São Paulo tinham no passado."

Nalini comandará a pasta com a função de colocar em prática a promessa de "aprofundar o diálogo", feita por Alckimin ao suspender a reorganização da rede, prevista para este ano e adiada para 2017 depois da resistência de estudantes e professores.

A medida prevê aumentar os colégios com ciclo único (só ensino médio, por exemplo), levando ao fechamento de 92 unidades e à transferência de 311 mil estudantes.

O movimento de alunos contrários à mudança levou à ocupação de quase 200 escolas e resultou na queda de Voorwald. O nome do novo secretário só foi confirmado oficialmente após 48 dias.

"Vou aproveitar esse interesse dos alunos para fazer da escola aquilo que tem que ser feito. Temos de transformá-las em centro de convergência de tudo o que acontece na comunidade, assim como nos países de primeiro mundo", afirmou Nalini.

"Vou reivindicar para termos um debate aberto. Não é possível fazer emendas em coisas que começaram errado, como fechamento de salas. Se for a mesma reestruturação, não tem lógica", declarou a presidente da Apeoesp (sindicato dos professores), Maria Izabel Noronha.

DESGASTE

Assessores de Alckmin avaliam que Voorwald não soube conduzir o processo da reorganização escolar, pulando uma das principais etapas, que era a conversa com os pais, alunos e professores.

O antigo secretário também se desgastou ao enfrentar a mais longa greve de professores da história da rede paulista, que durou 89 dias, e ao afirmar que sentia "vergonha" dos resultados da educação em São Paulo.

No fim do ano passado, auxiliares do tucano diziam que as ocupações das escolas tinham adquirido repercussão a ponto de disputar espaço com a discussão do impeachment de Dilma Rousseff.

Nalini, que foi até o ano passado presidente do TJ, diz que "não foi fácil pedir aposentadoria depois de 45 anos de Justiça para aceitar este desafio", mas afirma se sentir "em casa", já que é professor desde 1969, quando começou no Instituto de Educação Experimental Jundiaí dando aula de sociologia em aperfeiçoamento para professores.

Em meio à tensão no processo de reorganização das escolas, o TJ convocou reuniões de conciliação e decidiu não conceder a reintegração de posse pedida pelo governo.

Doutor em direito constitucional pela Faculdade de Direito da USP, Nalini contava com o apoio do secretário municipal de Educação, Gabriel Chalita (PMDB), que, apesar de estar na gestão Haddad (PT), é ouvido pelo governador, de quem já foi secretário.

"A educação, que segundo a Constituição brasileira é responsabilidade de todos, está hoje muito a cargo do Estado. Quero fazer com que a sociedade e a família se empenhem mais. Vejo a educação como política de nação, de pátria", afirmou Nalini.

Colaboraram KAIO ESTEVES, em Araçatuba (SP), e FELIPE SOUZA

Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.
 

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