Pedestres não são prioridade, mostram mortes no trânsito

LEANDRO NOMURA – COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE S. PAULO

Entre fevereiro e abril deste ano, a cidade de São Paulo registrou um aumento de 37% no número de mortes por atropelamento em comparação ao mesmo período de 2016, de acordo com dados do governo paulista.

A falta de segurança para pedestres e ciclistas, na opinião de Letícia Lemos, diretora da associação de ciclistas Ciclocidade, está relacionada ao modelo de mobilidade urbana brasileiro, que segundo ela é centrado no uso do carro.

"Essa promoção tem como chave a fluidez, que vai definir a geometria viária, prioridade nos cruzamentos, locais onde há estacionamento na rua. E essa fluidez é inversamente proporcional à segurança viária", afirma.

Reflexo da prioridade ao carro em detrimento ao pedestre são os investimentos. De acordo com o vereador Police Neto (PSD-SP), que participou na segunda (29) do Fórum Segurança no Trânsito, realizado pela Folha, o sistema de circulação a pé em São Paulo representa um terço de todas as viagens e recebe 1/114 do investimento.

A preferência dos carros é visível para quem anda pela cidade. Na Vila Mariana, zona sul, por exemplo, a reportagem encontrou calçadas tão estreitas que é impossível a travessia de uma única pessoa, mas há espaço para tráfego e estacionamento de veículos na rua.

Em outros bairros, o pedestre precisa compartilhar o espaço com lixo, buracos, postes, jardins e árvores. Em todos esses casos, as pessoas optam por sair da calçada e disputar a rua com os carros.

De acordo com lei municipal, as calçadas de imóveis privados são de responsabilidade dos proprietários, algo criticado pelo arquiteto e urbanista Ciro Pirondi, diretor da Escola da Cidade. "Temos calçadas que são o retrato do atraso da cidade. Elas não podem ser feitas por um particular. Ele vai fazer do interesse dele e não do coletivo", diz.

Atualmente, a fiscalização cabe às prefeituras regionais. A multa para passeio inexistente ou em mau estado de conservação, por exemplo, é de R$ 427,07 por metro quadrado linear.

RESTRIÇÃO A CARROS

Outra proposta de Pirondi para aumentar a segurança de pedestres é a de proibir o estacionamento de carros em ruas de grande fluxo de pessoas —o espaço seria usado para alargar as calçadas. "O automóvel não para. Só passa. Isso poderia ser feito em toda a região central de São Paulo. Quem quer ir com seu carrinho para o centro paga caro. Se não, vai de metrô".

"É o que se faz na prática em todas as cidades que visam a mobilidade urbana. Reduzir o tamanho das ruas para os veículos individuais e ampliar a via para pedestre e as faixas de transporte público", diz o especialista em mobilidade urbana Luiz Mello Filho, do Mackenzie.

A Prefeitura de São Paulo diz que vai implantar até o fim do semestre um programa voltado aos pedestres para intensificar a fiscalização nos principais cruzamentos da cidade. Também estuda aumentar em até 20% o tempo de travessia dos semáforos nas principais vias.

Para Mello Filho, ações como essas são importantes, mas é necessário que sejam integradas e adaptadas para cada rua. "Se for feita uma análise de risco nos locais onde houve acidente, a tendência é reduzir rapidamente o número de conflitos entre ciclistas, pedestres e veículos automotores", diz ele, que defende também uma separação clara do espaço de quem anda, pedala ou dirige.

Confira aqui todas as notícias do Caderno Especial Fórum Segurança no Trânsito.
 

Matéria publicada na Folha de S. Paulo.

 

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