Pesquisa mede carbono na mata atlântica em área do Rodoanel

Trabalho é o primeiro a fazer esse tipo de análise por meio de pesagem das árvores do bioma; Quantificação do sequestro de carbono indica quanto a floresta ajuda a prevenir o aquecimento global.

Por Maurício Tuffani

A primeira medição direta do chamado sequestro de carbono em mata atlântica está pegando carona na licença ambiental das obras do trecho norte do Rodoanel, em uma área desapropriada na serra da Cantareira, região noroeste de São Paulo.

Antes de começar a derrubada 180 hectares de florestas para as obras, pesquisadores da USP de Piracicaba e do Instituto de Botânica do Estado estão aproveitando troncos e galhos de uma área de 0,8 hectare para determinar seu armazenamento de carbono, o principal componente dos gases-estufa.

"É uma rara oportunidade para esse tipo de estudo, que será aproveitado em painéis das Nações Unidas sobre ecossistemas que ajudam a estabilizar o clima", disse o agrônomo Hilton Thadeu Couto, da USP em Piracicaba, coordenador da pesquisa, cujo trabalho de campo tem ainda 20 dias pela frente.

O conceito de sequestro ou armazenamento de carbono por florestas para prevenir o aquecimento global foi consagrado em 1997 na Conferência de Kyoto, no Japão, que estabeleceu para os países metas de redução das emissões de gases-estufa por queima de combustíveis fósseis.

Segundo Couto, o estudo também servirá para avaliar a redução de carbono em áreas degradadas de mata atlântica e para fundamentar projetos de arborização em cidades próximas a esse tipo de vegetação, como as da Grande São Paulo.

Desde 1993 a legislação sobre a mata atlântica praticamente impossibilita o corte de árvores. Proposta pelo Instituto de Botânica após a análise do estudo de impacto ambiental do trecho norte do Rodoanel, a pesquisa foi aceita pela estatal paulista Dersa (Desenvolvimeno Rodoviário), que está dando infraestrutura de apoio na floresta.

Outras quantificações de carbono em mata atlântica já foram feitas, mas só com base no tamanho de árvores. "Nosso estudo é muito mais abrangente, com uma área amostral 40 vezes maior e árvores de maior porte", disse o biólogo Michel Colmanetti, orientando de Couto em seu trabalho de doutorado.

Os trabalhos começaram na semana passada, quando foram selecionados os primeiros pedaços de troncos para análise do teor de carbono em laboratório da USP em Piracicaba.

Segundo Colmanetti, há registros em todo o mundo de cerca de 60 estudos de quantificação de carbono em florestas tropicais, poucos deles com base na pesagem de árvores como o que está sendo feito agora. Um deles, no Brasil, foi feito na Amazônia por cientistas da Universidade da Califórnia e do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), de Manaus.

Publicada em 2001 na revista "Forest Ecology and Management", essa pesquisa é uma das principais referências científicas sobre o papel das florestas tropicais no sequestro de carbono. Os primeiros artigos sobre a pesquisa na Cantareira deverão ser publicados no próximo ano.

"A iniciativa é importante pela oportunidade de uso da área de mata atlântica e pela relevância que os resultados poderão ter associados aos de outras pesquisas sobre esse tipo de floresta", disse o físico da USP Paulo Artaxo, membro do IPCC (painel do clima da ONU).

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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