Políticas públicas na área de Assistência Social precisam ser humanizadas

Reflexão foi feita durante debate sobre os resultados da pesquisa “Assistência Social na Cidade”, promovido pela Rede Nossa Paulo e Ibope Inteligência, em parceria com o Sesc São Paulo.

Por Airton Goes, da Rede Nossa São Paulo

Cada ser humano é diferente e, portanto, as políticas públicas precisam compreender e atender essas necessidades diversas. É com essa premissa, que o padre Júlio Lancellotti defende a humanização da assistência social na cidade de São Paulo. Para reforçar sua argumentação, ele lembra uma frase do pensador suíço Carl Jung, considerado o pai da psicologia analítica: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.

A reflexão de Lancellotti foi feita no debate sobre os resultados da pesquisa “Assistência Social na Cidade”, promovido nesta quarta-feira (18/7) pela Rede Nossa São Paulo e Ibope Inteligência, em parceria com o Sesc São Paulo.

Vigário episcopal do povo de rua há mais de 10 anos, ele iniciou sua fala no evento, ocorrido no auditório do Sesc Bom Retiro, pedindo para alguns participantes trocarem de sapatos. Ou seja, para uma pessoa colocar o calçado da outra, independentemente de sexo e tamanho do pé. Assim que fizeram a troca e viram o estranho resultado, Lancellotti comparou: “A política pública de São Paulo é assim, quer que todo mundo tenha o mesmo número de sapato, o mesmo pé”.

Segundo o sacerdote, as pessoas não são vulneráveis. “Elas são vulneradas por um sistema que as tornam vulneráveis”, explicou. “E nada mata mais os vulnerados do que a burocracia”, criticou.

Ele propôs que seja feita uma auditoria técnica e financeira sobre os recursos destinados aos moradores de rua na capital paulista. “Cada pessoa nesta situação custa cerca de R$ 1.600,00 por mês para a administração municipal, mas grande parte desse dinheiro fica na estrutura, enquanto para o morador de rua é servido salsicha”, lamentou.

Outra participante do debate, a professora de pós-graduação em serviço social da PUC São Paulo, Aldaíza Sposati, destacou a importância da pesquisa “Assistência Social na Cidade”. “Os resultados nos dão a oportunidade de perceber que as pessoas pensam de acordo com o lugar em que elas vivem”, avaliou.

De acordo com o levantamento, 55% dos paulistanos são favoráveis à proposta de instituir a Renda Básica de Cidadania para toda e qualquer pessoa residente em São Paulo.  Entre os mais pobres, menos escolarizados, pretos e pardos o apoio ao benefício é maior. Já entre os mais ricos, mais escolarizados e brancos a ideia tem menor aceitação. “Os que têm mais são os mais preconceituosos”, constatou Aldaíza.

Ela criticou a descontinuidade das políticas públicas. “Temos tido uma sucessão de governantes que se acham o inventor da roda”, ironizou. Para a professora, os centros de acolhida da Prefeitura devem ter as “portas abertas” a todos que necessitam do serviço e deveriam funcionar o dia todo e não só à noite.

Adriana Palheta, especialista em Direitos Humanos pela Universidade de São Paulo, destacou que a assistência social tem que ser entendida com um direito humano e ser gerida por um sistema integrado.

Em sua avaliação, nos últimos anos houve avanços em relação ao atendimento na primeira infância, porém o adolescente continua quase invisível para o poder público. “Quando aparecem aqueles sinais de questionamentos e mudanças inerentes à adolescência, esses meninos e meninas desaparecem das políticas públicas”, denunciou.

O orçamento da assistência social na cidade foi tema de Regina Paixão, coordenadora do FAS – Fórum de Assistência Social de São Paulo e presidente da Sociedade Santos Mártires, no Jardim Angela. “Os recursos para a área previstos na LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias] para 2019 correspondem ao mesmo valor do ano passado”, informou.

Para ela, aumentar o orçamento destinado ao setor é fundamental para melhorar os serviços prestados. “Essa vai ser uma grande luta”, previu.

Regina também expressou preocupação com “os 16 mil trabalhadores da assistência social”, defendendo a categoria. “Nós que ficamos na ponta, que estímulos estamos tendo para trabalhar?”

O debate foi moderado por Jorge Abrahão, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo. “Em tempo de crise, esse tema [Assistência Social], que sempre foi importante, ganha contornos mais fortes ainda”, observou ele.

Em relação aos resultados da pesquisa, Abrahão ponderou: “A primeira impressão é que, de alguma maneira, há uma posição madura da população e isso nos dá um alento”. Ele explicou sua avaliação, citando as medidas consideradas prioritárias pelos paulistanos para enfrentar o problema da Cracolândia. “A população fala de priorizar políticas públicas, embora cite também o combate ao tráfego de drogas.”

Outro ponto do levantamento abordado pelo coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo foi o apoio da maioria dos paulistanos à proposta de instituir a Renda Básica de Cidadania para toda e qualquer pessoa residente em São Paulo. “Em momentos de incerteza, de grandes mudanças no mundo do trabalho, a questão da renda básica tem sido colocada como alternativa em diversas partes do mundo”, relatou.

Presente ao evento, o vereador Eduardo Suplicy se disse surpreso e contente com o fato de a proposta da Renda Básica de Cidadania – que é defendida por ele há vários anos – ter feito parte da pesquisa. Ele lembrou e comemorou a fala do ex-presidente americano, Barack Obama, por ocasião do centésimo aniversário do nascimento de Nelson Mandela, ocorrido nesta terça-feira (17/7). “Pela primeira vez, ele [Obama] falou sobre a renda básica universal, fazendo uma defesa da proposta”, relatou, antes de complementar: “Fiquei entusiasmado com esse impulso”.

Segundo Suplicy, mais de quarenta países estão debatendo e iniciando a política de renda básica. Ele citou diversas experiências já colocadas em prática.

Jorge Abrahão, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Patrícia Pavanelli, diretora de contas do Ibope Inteligência, e o artista  Mauro Braga, que emocionou a todos com a “Canção do Beco”, na intervenção cultural do evento. 

Pesquisa integra série “Viver em São Paulo”

Os resultados da pesquisa “Assistência Social na Cidade” foram apresentados por Patrícia Pavanelli, do Ibope Inteligência. “Os paulistanos se apresentam abertos à implementação de políticas públicas de diversas áreas para a solução das questões investigadas no estudo. Porém, a aplicação de punições no combate à violência contra a mulher e o uso de poder de polícia ou das Forças Armadas também estão presentes na opinião dos paulistanos”, apontou ela.

Foram entrevistados 800 paulistanos de 16 anos ou mais e a margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, sobre os resultados encontrados no total da amostra.

Confira aqui a apresentação da pesquisa “Assistência Social na Cidade”.

Confira aqui a pesquisa completa.

A pesquisa publicada nesta quarta-feira (18/7) integra a série “Viver em São Paulo”, que foi iniciada este ano e mensalmente tem divulgado dados sobre a percepção dos paulistanos em relação a temas importantes que afetam a vida na capital paulista.

A série “Viver em São Paulo” é promovida pela Rede Nossa São Paulo e Ibope Inteligência, em parceria com o Sesc São Paulo.

Fotos de Ivo Lindbergh / Metrô News

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