“Calçadas, armadilhas urbanas no caminho do cidadão” – Por Mílton Jung

Por Mílton Jung
 
É a cara da dor dos pedestres brasileiros. Uma foto constrangedora que incomoda. Os hematomas nos olhos da atriz Beatriz Segall estampados nas páginas de jornais e sites, desde quarta-feira, simbolizam a realidade de milhares de vítimas de acidentes nas calçadas mal conservadas das cidades brasileiras. Um buraco no caminho do teatro onde assistiria a um espetáculo, no bairro carioca da Gávea, a fez despencar no chão, como ocorre diariamente com quantidade incrível de pessoas. Estudo do ombudsman da CET – Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo, Philip Gold, divulgado ano passado, estima que 171 mil pessoas sofrem quedas nas calçadas apenas na Região Metropolitana e o custo social destes acidentes é de R$ 2,9 bilhões a cada ano – 45% a mais do que o custo causado por acidentes com veículos. No Hospital das Clínicas de São Paulo as quedas são o segundo principal motivo de busca de atendimento na instituição e em 40% dos casos havia um buraco no meio do caminho.
 
Não pense que os problemas apenas incomodam os moradores de São Paulo, onde aliás mora Beatriz Segall, ou Rio de Janeiro, onde ela caiu. De acordo com enquete realizada pelo Instituto Mobilize – Mobilidade Urbana Sustentável, as calçadas de 39 cidades receberam nota 3,55 em média, muito abaixo do que se considera o mínimo aceitável para uma calçada de qualidade, que é a nota 8. Apenas 6,57% dos 228 locais avaliados obtiveram nota acima desse indicador mínimo. E 70,18% das localidades analisadas tiveram médias abaixo de 5 (veja os dados completos aqui).
 
Para resolver esse problema não é possível deixar a solução apenas para os proprietários das casas e prédios que, na maioria das cidades, são os responsáveis diretos pelas calçadas que estão diante de suas unidades habitacionais. As prefeituras têm obrigação de desenvolver ações com intervenção nos passeios com maior fluxo de pedestres e criar programas que incentivem os cidadãos a cuidar das calçadas. São Paulo, por exemplo, tem 32 mil quilômetros de calçadas , se investir em 10% das principais vias solucionaria 80% dos problemas de acessibilidade dos pedestres.
 
É necessário, também, mudar o nosso comportamento, pois tendemos a reclamar mais pelo buraco no asfalto que “machuca” a roda e a suspensão do carro do que pela calçada quebrada, sem perceber que, por mais que adoremos os automóveis, antes de motoristas somos pedestres.
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