Pessoas com deficiência sofrem com problemas das calçadas de São Paulo

 

Assunto foi destaque no seminário de abertura da Semana da Mobilidade, que também debateu a bicicleta como alternativa de transporte e a campanha Chega de Acidentes

Airton Goes airton@isps.org.br 

A situação das calçadas da cidade de São Paulo, que já é ruim para todos os pedestres, se torna ainda pior para pessoas com deficiência, idosos e mães com carrinhos de bebê. A avaliação foi feita por Asunción Blanco, uma das coordenadoras do GT Mobilidade Urbana da Rede Nossa São Paulo, durante o seminário “A mobilidade urbana e os modais não motorizados – pedestres/ciclistas”. 

Primeira palestrante a falar no evento realizado nesta sexta-feira (16/9), na Câmara Municipal de São Paulo, Asunción apresentou alguns dos problemas enfrentados pelos pedestres em função da falta de qualidade das calçadas paulistanas. Ela mostrou imagens de situações irregulares, como entrada de garagens que formam degraus e pisos inclinados que impedem o trânsito de cadeirantes, carrinhos de bebê e idosos. 

A especialista em calçadas exibiu, ainda, paradas de ônibus e placas instaladas em locais inadequados e que dificultam a passagem das pessoas. “Nem a prefeitura faz o que está estabelecido na regra, deixando a calçada livre para os pedestres”, lamentou. 

Asunción não se limitou a criticar a situação. Ela também apresentou propostas para melhorar a qualidade das calçadas. Entre as sugestões estão: reorganizar o mobiliário urbano (paradas de ônibus, placas, etc); revisar o decreto sobre passeio público para lixeiras, inclinação e degraus; colocação de corrimão em áreas de declive acentuado; e alargamento de, pelo menos, um dos lados da calçada onde a medida seja inferior a 1,2 metro.

Veja apresentação da Asunción Blanco

Os problemas que as calçadas mal cuidadas acarretam para as pessoas com deficiência foram confirmados pelo consultor de inclusão e coordenador de projetos de TI da Accenture, Sérgio Faria. Ele, que é deficiente visual, deu como exemplo os buracos causados pela falta de lajotas no piso. “Você não vai perceber e o resultado é que irá cair ou torcer o pé”, explicou.

Faria reclamou da quantidade de orelhões – onde os deficientes visuais batem a cabeça – e do excesso de lixo nas calçadas. “Eu tenho um cão-guia treinado, mas que não perde seu instinto. Quando sente o cheiro do lixo, o cachorro pára e você não sabe o motivo”, relatou. “Além disso, você pode se sujar, escorregar e cair”, complementou.

João Ribas, coordenador de área de Diversidade & Inclusão da Serasa Experian, falou de sua experiência como cadeirante e especialista em acessibilidade para pessoas com deficiência. “O cadeirante não anda na calçada, ele anda na rua… só isso”, resumiu ele, argumentando que na via “é mais plano e não há tantos obstáculos”.

Segundo ele, parte dos problemas existentes nas calçadas acontece porque muitas pessoas só pensam em si e não nos outros. “Para além das leis e regras, que devemos ter, a gente precisa entender que vivemos numa sociedade e somos interdependentes.” Ribas deu um exemplo prático de como seria construir um ambiente bom para todos: “Quando for fazer um portão ou uma calçada, porque não pensar em fazer algo que seja bom para mim, mas que também seja bom para quem passa na calçada”.

A bicicleta como alternativa de transporte na cidade foi defendida por Carlos Aranha, coordenador de participação pública da Ciclocidade. Na visão dele, quem manda na cidade – no sentido de ser a prioridade do poder público – é o carro. “Quem é o rei é o carro e o resultado disso é que moramos numa cidade poluída e com mais trânsito a cada dia.”  

Para Aranha, tuneis, avenidas e viadutos destinados aos veículos particulares atendem apenas 30% da população, pois 33% dos paulistanos andam a pé, 37% de transporte coletivo e 1% de bicicleta. Outro dado apresentado por ele foi a comparação entre a quantidade de quilômetros de ciclovias existente na cidade americana de São Francisco (333 quilômetros) e São Paulo (23 quilômetros).

O ciclista concluiu sua apresentação mostrando uma foto que simboliza a importância que a cidade dá ao carro, em detrimento dos pedestres e ciclistas. A imagem mostra duas placas – de proibido a circulação de pedestres e de ciclistas – na Ponte Estaiada Otávio Frias de Faria, um dos principais postais da cidade.

Apresentação de Carlos Aranha

Patrícia Gejer, do CESVI (Centro de Experimentação e Segurança Viária) Brasil e representante do Movimento Chega de Acidentes, informou os participantes do seminário sobre o abaixo-assinado que está sendo promovido pelo movimento para reduzir o número de acidentes. Ela anunciou que o documento, posteriormente, será entregue às autoridades brasileiras.

De acordo com a representante do Movimento Chega de Acidentes, o Brasil ocupa o quinto lugar no mundo em mortalidade por acidentes de trânsito. “Em 2009, foram 37.600 mil mortes e 123.500 feridos”, registrou. O impacto econômico e social dos acidentes daquele período é estimado em R$ 34 bilhões. “O valor equivale ao projeto do trem bala, que ligará São Paulo ao Rio de Janeiro”, comparou Patrícia.

Apresentação de Patrícia Gejer

O seminário, que abriu a Semana da Mobilidade em São Paulo, foi coordenado por Marco Nordi, o outro coordenador do GT Mobilidade Urbana da Rede Nossa São Paulo. “Nossa idéia é discutir idéias e mobilizar pessoas para essa questão [da mobilidade]”, afirmou ele.

Veja a programação completa da Semana da Mobilidade.

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