Queda de jovens eleitores reflete descrédito da política, dizem cientistas políticos

Dados da Corte Eleitoral indicam redução de 31% no número de eleitores com menos de 18 anos

A redução do número de eleitores com menos de 18 anos apresentada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na última terça-feira (29) reflete a alienação e o descrédito dos adolescentes com a política. O diagnóstico é de cientistas políticos e sociais ouvidos pelo R7.

Segundo a Justiça Eleitoral, o número de jovens eleitores, com 16 ou 17 anos, inscritos no TSE e com poder de voto em 2014 é de 1.638.751 — um recuo de 31% em relação a 2010, quando a quantidade chegou a 2.391.352.

A cientista política e professora da PUC-SP Vera Chaia diz que os números preocupam, mas adverte que o cenário só está assim por culpa dos próprios partidos políticos e candidatos, que não se renovam.

— Há um descrédito na política. As coisas não mudam e, [quando mudam], só mudam para pior. Eles [os jovens] só vão se inscrever [para tirar o título de eleitor] quando for obrigatório. Isso é bem sintomático. Não há uma renovação nos quadros políticos. São sempre as mesmas pessoas e políticos. Isso desestimula.

O cientista político da UnB (Universidade de Brasília) David Fleischer diz que o recuo de eleitores jovens “é muito preocupante”.

— Isso [a redução de eleitores com menos de 18 anos] é reflexo da alienação dos nossos jovens. Na década de 1990, especialmente a partir das eleições de 1994, muita gente se alistava porque era uma novidade. Isso é triste para a democracia brasileira.

Para Fleischer, “tanto os candidatos às eleições desse ano como os políticos eleitos pelo voto do povo têm parcela de culpa nisso”.  O cientista político vê uma relação distante entre as manifestações de junho de 2013 e tirar o título de eleitor antes dos 18 anos.

— As manifestações de junho do ano passado podem ter contribuído com essa redução já que o que aconteceu foi no sentido negativo e tirar o título de eleitor aos 16 anos é uma atitude positiva. Porque o jovem teoricamente quer decidir o futuro do País.

A cientista política Vera Chaia concorda e lembra que “o objetivo das manifestações não era escolher nada”.

— Os protestos queriam questionar a política que existia naquele momento e nada mudou. Então, por que se inscrever antes dos 18 anos já que o voto não é obrigatório?

Matéria originalmente publicada no portal R7

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