Naiana Oscar, naiana.oscar@grupoestado.com.br
Há 12 anos essa notícia seria improvável. Mas o caos no trânsito da Cidade chegou a tal ponto que o paulistano começou a pensar diferente. Divulgada ontem, a pesquisa do Movimento Nossa São Paulo sobre mobilidade na Capital mostra que boa parte da população "está de bem" com o rodízio de automóveis, tanto que 41% já concordaria em ampliá-lo para dois dias.
Para o presidente do movimento, Oded Grajew, é uma prova de que os paulistanos estão mais conscientes em relação aos problemas da Cidade. "As pessoas estão se dando conta de que essa situação é suicida e precisa mudar", disse. "Ficamos surpresos com esse número."
Criador do rodízio em 1995, o consultor Fábio Feldmann também se surpreendeu, mas inversamente. Para ele, a aceitação da medida, 12 anos depois, deveria ser bem maior. "Na época a população nos apoiou em peso. A adesão não foi tanta mas o apoio foi geral", disse. De qualquer forma, Feldmann não acredita que deixar o carro em casa mais de uma vez na semana seja a solução para o trânsito na Cidade. Ele afirma que o rodízio não pode ser adotado isoladamente. "Sozinho ele perde a eficácia", disse. "Por isso já está esgotado."
O especialista em trânsito Sérgio Costa não vê a ampliação do rodízio com bons olhos. Segundo ele, por questão logística, seria inviável aumentar o número de placas num mesmo dia. "O povo vai ter dificuldade para decorar, não dá certo."
Mas nas ruas, é fácil encontrar quem comprove a pesquisa. A estudante Carolina Guerra, 20 anos, tem carro e não se importa de deixá-lo na garagem. "Seria ótimo porque cada vez mais o trânsito está uma loucura." Quando pode, ela faz os trajetos a pé ou de metrô.
Mas não é todo motorista que trocaria o conforto do carro pela incerteza do transporte público. Segundo a pesquisa, 75% dos paulistanos que se deslocam em automóveis usariam ônibus, trem ou metrô. Mas com uma condição: o sistema teria que melhorar. Entre as exigências, 37% dos entrevistados pedem mais linhas de ônibus, 33% redução no tempo de espera e 26% passagens mais baratas. Metade da população quer a ampliação dos sistemas de metrô e do trem.
As ciclovias também estão em pauta. Numa cidade em que 370 mil pessoas se deslocam de bicicleta todos os dias, a construção de novas ciclovias é uma exigência de 36% dos paulistanos. Junto, vem o pedido por mais segurança: 31% da população acha que os ciclistas precisam de mais atenção.
Na pesquisa realizada pelo Ibope, os entrevistados deram notas de 1 a 10 para vários aspectos ligados ao trânsito de São Paulo. A ocorrência de problemas respiratórios ganhou a pior nota, 3,2. O item mais bem avaliado foi a qualidade de vida: 5,7. Estranho? A estudante Carolina Guerra explica o resultado: "É que a gente reclama, mas no fundo ama essa Cidade."
Jornal da Tarde – 11/10/2007 – CIDADE
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