Serviço tem índice baixíssimo de não devolução de livros, de 1,8%; associados retiram, em média, 7 obras por mês
Valéria França
A notícia é boa, principalmente para os brasileiros que esperam um futuro melhor. A iniciativa de instalar bibliotecas gratuitas ao longo das linhas do metrô deu tão certo que a experiência se multiplicou. A primeira foi montada, em 2004, na Estação Paraíso, num quiosque envidraçado, logo após a catraca. Começou com 2.100 livros. Hoje oferece 5 mil títulos a seus 13.994 sócios, que retiram em média 7 livros por mês. Depois foram abertas mais duas bibliotecas, nas Estações Tatuapé e Luz, que elevaram o número de associados para 22.949 . Em dezembro, será inaugurada mais uma, na Linha Lilás, na Estação Largo 13 de Maio. Mas há outro indicador que mede o sucesso do projeto: o índice de não-devolução de livros é baixíssimo.
“Eu sempre gostei de ler, mas os livros são muito caros”, diz Maria Lúcia dos Santos, de 25 anos, secretária de um clínica, que é sócia da biblioteca da Estação Paraíso. Ela lê um livro a cada quatro dias. Ganhou o primeiro lugar do concurso da biblioteca feito para apontar o sócio que faz mais retiradas de livros. “Quando o paciente entra na sala do médico, não tenho o que fazer, então leio”, explica.
Batizado de Embarque na Leitura, o programa é organizado pelo Instituto Brasil Leitor, ONG que se dedica a aproximar a população dos livros. Num País com 49 milhões de analfabetos funcionais e 7,6 milhões de desempregados, as apostas no sucesso de uma biblioteca gratuita eram baixas. “As pessoas diziam que os sócios não iriam devolver os livros”, diz William Nacked, diretor-geral do Instituto Brasil Leitor. “Então fizemos um experiência no Poupatempo de Santo Amaro, de 2001 a 2004. E deu muito certo, o que estimulou o instituto a levar a experiência ao metrô.”
Pelos cálculos de Nacked, a biblioteca pode ter um índice de, no máximo, 3% de livros extraviados por mês para o projeto dar certo. “Mas, como a retirada é gratuita, imaginavam que ninguém respeitaria as normas.” Apesar de as regras serem bem rígidas – quem não devolve a obra no prazo de até dez dias fica suspenso por um mês – em São Paulo, o índice de livros extraviados é de apenas 1,8%. Em outras capitais, que incorporaram o projeto, a média é ainda menor. Em Recife, só 1,5% não é devolvido e no Rio, nenhum exemplar deixou de ser entregue de volta na biblioteca da Estação Central.
“Não dá para atrasar”, diz a pernambucana Damiana Farias da Silva Bezerra, de 28 anos. “Ficar um mês sem ler é um inferno.” Filha de uma empregada doméstica e de um ajudante de pedreiro desempregado, Damiana quase não sai de casa, na periferia de Recife. Sofre de crises agudas de asma e por isso não estuda nem trabalha. “Passo os dias lendo. Cada livro é uma emoção para mim. Chorei muito com Casa da Rua Esperança (de Danielle Steel). E aprendi muito também. É a história de uma mulher que perde a família no Dia de Natal. Imagine, nunca tinha pensado na possibilidade de os meus pais morrerem.”
Fonte: 27/10/2007 – METRÓPOLE
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