Desafio metropolitano

 

A consolidação de São Paulo como capital mundial de serviços mereceria empenho dos três níveis de governo

A DISTRIBUIÇÃO da renda nas principais regiões metropolitanas do Brasil apresenta comportamento peculiar. São Paulo e Rio de Janeiro destoam do padrão nacional, que vem apresentando lenta desconcentração desde o início desta década. As duas metrópoles ainda sustentam níveis de desigualdade comparáveis aos de 1995.
A conclusão, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, vem somar-se a uma série de outros dados, todos apontando a insuficiência, para não dizer ausência, de políticas públicas capazes de lidar com as mazelas dos grandes aglomerados urbanos. Os mais destacados programas sociais do país -calcados na transferência direta de renda aos mais pobres e no aumento constante do poder de compra do salário mínimo- têm efeito limitado nas regiões metropolitanas.
O custo das crises econômicas no período de 1998 a 2003 foi particularmente alto nesses conurbados. No auge desse processo, no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a taxa de desemprego medida pelo Dieese e pela Fundação Seade chegou a roçar os 21% na Grande São Paulo. Hoje cedeu para o patamar dos 15%, ainda elevado.
A queda nos anos de crise foi tanta que os principais indicadores socioeconômicos a respeito das metrópoles vão mostrar que a recuperação, em curso há quatro anos, ainda não foi capaz de restabelecer os patamares de meados da década passada. A renda domiciliar per capita em São Paulo, por exemplo, ainda estava, em 2006, mais de 5% abaixo do nível de 1995.
O desafio de lidar com regiões como a metropolitana da capital paulista, onde vivem 20 milhões de pessoas, não é complexo apenas pelo fato de o assistencialismo, aqui, ter impacto irrelevante na melhoria das condições de vida. Se o protagonista da inclusão social tem de ser o mercado de trabalho, o modo de atrair investimentos é hoje totalmente diverso do que foi no passado.
Em 20 anos (1985 a 2005), São Paulo perdeu 500 mil empregos industriais, que em parte migraram para outras regiões do Estado e do país, ajudando a reduzir o desequilíbrio regional. Em compensação, 1,4 milhão de postos foram criados em comércio e serviços, segundo estudo de pesquisadoras da PUC-SP e da USP. Os anos de crise incentivaram os postos de baixa qualificação e remuneração, como os serviços domésticos e os trabalhadores por conta própria.
O poder público não deveria deixar apenas à mercê do mercado a definição do destino econômico da maior metrópole do país. Em pelo menos duas frentes -a atração de investimentos em serviços de maior valor e a qualificação maciça dos trabalhadores, especialmente dos jovens no ensino médio- o governo pode fazer a diferença.
As boas iniciativas nesse sentido ainda são esparsas. A consolidação de São Paulo como uma das capitais mundiais dos serviços -associada à equalização das oportunidades de emprego para todos os seus cidadãos- mereceria uma mobilização nos três níveis de governo.

Fonte: Folha de S.Paulo – 15/11/2007

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