Carros andam 2 vezes mais rápido que ônibus

 

Baixa velocidade dos coletivos na capital, em média de 12 km/h, desestimula o uso e encarece passagem

Naiana Oscar

Parece fácil. Uma das saídas apresentadas pelos especialistas para acabar com o caos no trânsito da capital é fazer os paulistanos deixarem o carro em casa e usar o transporte público. O difícil é se convencer disso. A velocidade média desenvolvida pelos ônibus no horário do rush, por exemplo, é a metade da velocidade dos automóveis. Segundo levantamento do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de São Paulo, durante os congestionamentos da manhã e da tarde, os ônibus atingem, em média, 12 km/h. Segundo a CET, a velocidade média dos carros pela manhã é de 27 km/h; à tarde, de 22 km/h: o mesmo que um ciclista, sem preparo físico, consegue desenvolver, no horário de pico, numa avenida sem ciclovia.

A baixa velocidade média dos ônibus, além de desestimular a população a usar o transporte público, influencia diretamente no preço das passagens. “Se o tempo de viagem aumentar 10% ao longo de cinco anos, a frota tem de ser ampliada em 20%. Esse custo é repassado para as tarifas”, explicou o coordenador do sistema de informações da Associação Nacional de Transporte Público (ANTP), Adolfo Mendonça. “A quilometragem continua a mesma, mas a empresa precisará de mais carros.”

Em 1987, a velocidade média dos ônibus era de 24 km/h. Em 1997, caiu para 14 km/h. E agora está 14% menor. O curioso é que sete dos dez corredores de ônibus que existem na cidade foram criados nos últimos dez anos. De acordo com o projeto de 2004, nos corredores os ônibus deveriam desenvolver uma velocidade média de 20 km/h. Hoje, só o Expresso Tiradentes supera essa previsão, com 37 km/h. Entre os outros, o corredor Parelheiros-Rio Bonito-Santo Amaro tem o melhor desempenho: 19km/h. O da Avenida 9 de Julho, criado em 1987, tem o pior: 12km/h.

No meio de tanta reclamação quanto à velocidade cada vez menor, um passageiro tentava mostrar o lado bom de andar de ônibus em são Paulo. “De carro, quanto mais o trânsito congestiona mais chances se tem de ser assaltado”, diz o professor de inglês, Augusto Junqueira, de 44 anos. “Se vou ficar parado, prefiro estar no ônibus, lendo, ouvindo música e curtindo as paisagens da cidade.”

Mas nem todos pensam assim. “Vou de carro todo dia para o trabalho. Levo uma hora a menos. Só uso ônibus quando vou ao centro”, diz a comerciante Rosa Ferreira, de 38 anos. “Meu sonho é ter um carro. Eu passo pelo menos três horas por dia dentro do ônibus lotado”, completa o cortador de roupa Marcelo Xavier de Souza, de 35 anos.

“Isso mostra que os ônibus ainda não são prioridade, quando se trata de transporte público”, disse o ex-secretário municipal de Transportes e consultor de trânsito, Adriano Branco. “O ônibus perdeu a guerra contra o automóvel.” Segundo o consultor, os corredores exclusivos em operação na capital não são ideais. Além da ampliação do metrô, ele aponta para a necessidade de criar corredores realmente exclusivos com veículos guiados e operando com linhas tronco, que alimentam os bairros. “Poderíamos chegar à metade da capacidade do metrô.”

Ontem, o pico de lentidão foi registrado às 9h30, com 134,5 km de congestionamento. às 18h30, foram registrados 130 km de lentidão.

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