Mesmo bom, ar faz mal à saúde

 


Estudo do Incor revela: poluição é vilã todo dia

Fernanda Aranda, fernanda.aranda@grupoestado.com.br

Mesmo quando a qualidade do ar é classificada como boa na Cidade, os paulistanos respiram poluição suficiente para provocar um colapso no coração. O alarme foi dado após divulgação de uma pesquisa do Instituto do Coração (Incor). Ficou comprovado que, ainda que a concentração de gases tóxicos não “incomode” as estações de medição, a ocorrência de ataques cardíacos já aumenta entre 7 e 12% por causa dos níveis de poluentes.

O estudo avaliou 3.300 pessoas, que recorreram, nos últimos 20 meses, ao pronto-socorro do Incor com diagnóstico de arritmia (aceleração exacerbada dos batimentos cardíacos). Os pesquisadores atestaram que os dias mais movimentados de pacientes com “pane no coração” eram também os mais poluídos. Para promover um descompasso na freqüência cardíaca, e aumento de 12% dos casos, bastou a concentração média de monóxido de carbono chegar a1,5 ppm (principal poluente emitido pelos veículos). Na escala oficial, só quando a concentração atinge nível superior a 9 ppm, o ar é classificado como ruim pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).

As partículas inaláveis – outro poluente comum na atmosfera de São Paulo – também fizeram crescer em 7% a ocorrência de arritmia no PS do Incor. Da mesma forma, a concentração necessária para culminar em problemas foi de 22 mg por metro cúbico, bem menor do que o mínimo de 50 mg considerado impróprio. “Ficou evidente que valores de poluentes muito inferiores do que o tolerável são suficientes para provocar danos severos à saúde”, afirma o coordenador da pesquisa, Ubiratan Santos.

Os padrões para considerar o ar bom ou ruim, explica o Conama, foram estipulados em 1990 e até agora não passaram por atualização. No ano passado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) sugeriu que o Brasil reduzisse pela metade estes indicadores. “Somos favoráveis à redução. Mas isso exigiria uma mudança brusca na indústria e economia”, fala o assessor da Secretaria de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Carlos Alberto Santos.

Para Paulo Saldiva, diretor do Laboratório de Poluição da USP, os gases tóxicos voltaram a ser os principais vilões dos paulistanos porque as questões financeiras se sobrepõem à saúde. “Na região metropolitana, a poluição é responsável por oito mortes diárias. Entre 1996 e 2005, reduzimos a mortalidade, mas voltamos a uma escala crescente”, lamenta. Para se ter uma idéia, as mortes causadas por poluentes superam as vidas perdidas nos acidentes de trânsito (4 por dia) e homicídios ( 6,5 diários) na Cidade.

Segundo relatório da Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb), em 2007 a poluição voltou a crescer, após uma década contínua de queda. Todos os poluentes registram ligeira alta de 2% o que, atrelado às condições climáticas – tempo quente e dias secos – fizeram aumentar em 54% os dias considerados impróprios por conta do ozônio. O principal responsável pelo aumento é o crescimento explosivo da frota automotiva, que chegou aos 6 milhões de veículos na Capital. “Ainda é prematuro afirmar que a poluição voltou a crescer. O que se sabe é que há uma estagnação nas melhoras”, afirma a diretora de qualidade do ar da Cetesb, Maria Helena Martins.

Segundo o professor de pediatria ambiental da Universidade Santo Amaro Alfésio Braga, há 200 doenças relacionadas à poluição, principalmente cardiovasculares e respiratórias. “Elas fazem vítimas fatais diariamente”, afirma.

O QUE VOCÊ PODE FAZER


ALERTA

O motorista que fica 20% de tempo a mais do que o habitual nos congestionamentos dobra as chances de ter um enfarte

DICA
Sempre que possível, faça seus percursos a pé ou de bicicleta. O carro só deve ser utilizado em situações de emergência. Os especialistas recomendam que trajetos fixos, como ir ao trabalho ou à academia, sejam feitos em transporte público ou alternativo

ALERTA
A poluição provoca efeitos parecidos com os do cigarro mesmo em quem não fuma. Na Capital, os gases tóxicos matam mais do que os acidentes de carro e os homicídios

DICA
Se for imprescindível usar o carro, tente montar um grupo de revezamento. Descubra no trabalho se há pessoas que fazem um itinerário parecido com o seu e monte um esquema de carona solidária

ALERTA

O movimento em hospitais aumenta até 30% em dias em que a concentração de poluentes supera os níveis normais. Crianças e idosos são os mais afetados

DICA
Em dias secos, umedeça a casa com baldes de água e espalhe toalhas molhadas. Beba ao menos 2 litros de água por dia. Evite fazer exercícios ao ar livre entre 8h e 17h

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