IPT alerta para enchentes e erosão

 

Fonte: O Estado de S.Paulo

Prestes a concluir plano para a região, instituto ainda cita riscos de desabastecimento e assoreamento de rios

Gabriela Carelli e Diego Zanchetta

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) está prestes a concluir um plano de desenvolvimento e proteção ambiental para a bacia do Juqueri-Cantareira, alvo nos últimos anos dos impactos da urbanização no entorno da Serra da Cantareira. O plano, sob responsabilidade da geógrafa Maria Cristina Jacinto de Almeida e do geólogo José Luiz Albuquerque Filho, vai mirar nos danos causados em uma extensão de 844 km² de solo. Também serão feitos monitoramentos da qualidade de água dos Reservatórios Juqueri e Águas Claras e da Estação Elevatória Santa Inês – os três são parte do complexo Cantareira, responsável por fornecer 33 m³ de água por segundo para a Grande São Paulo.

O avanço de empreendimentos próximos de mananciais aumenta o risco de erosão e desabastecimento – causados pela pavimentação de ruas de terra no entorno da serra. “A retirada da vegetação para a construção de edificações promove a diminuição do tempo de concentração das águas e o aumento do escoamento superficial, resultando em condições favoráveis ao processo erosivo”, alerta a geógrafa Maria Cristina.

A conseqüência dos processos erosivos é o assoreamento – a deposição de sedimentos sólidos transportados para rios e córregos afluentes do Rio Tietê. “Isso pode ocasionar enchentes e também a perda de capacidade de armazenamento de água nos reservatórios do Cantareira”, afirma o geólogo Albuquerque Filho. O pesquisador do IPT explica que a ocupação urbana próxima das áreas de mananciais, como se observa na Cantareira, associada à ausência de infra-estrutura básica, como coleta e tratamento de esgoto doméstico, é a principal causa da degradação de áreas de mata nativa.

NOVAS LEIS

O IPT pretende também, por meio do plano, propor a elaboração de leis específicas para a região da Cantareira. “Entre as ações previstas destacamos a necessidade de monitoramento sistemático e de longo prazo das diferentes áreas ou sub-bacias com recursos hídricos utilizados para o abastecimento da população”, diz Albuquerque Filho. “Essas ações são fundamentais para a adoção de medidas preventivas que podem minimizar as conseqüências da ocupação desordenada na serra”, completou o geólogo.

Os condomínios de médio e alto padrões, considerados hoje uma ameaça exponencial à serra, não são o único problema. Os loteamentos clandestinos, que na década de 90 eram a principal causa da derrubada de árvores na Cantareira, ainda merecem atenção. O pesquisador Romeu Sini, do Departamento de Sensoriamento Remoto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vai concluir até o fim do mês um estudo sobre invasões de famílias de baixa renda em terrenos da serra com declive maior de 45° – o que é proibido por uma legislação federal.

“As invasões pequenas, de barracos sem nenhuma assistência, também estão avançando. O esgoto dessas casas escoa direto para os mananciais, o que representa um risco para a qualidade da água da região”, diz o pesquisador.

Entre 1990 e 2000, foram 143 loteamentos irregulares que se instalaram na Serra da Cantareira. Essas invasões ocuparam uma área equivalente a seis parques do Ibirapuera, que tem ao todo 1,6 milhão de metros quadrados.

Já na região da Cantareira dentro do município de São Paulo, foram autorizados, entre 2005 e 2007, 81 novas construções que resultaram na supressão de 14 mil árvores. Como contrapartida, a Prefeitura diz que os responsáveis pelas construções tiveram de fazer o replantio de 140 mil mudas.

Já o DPRN emitiu no mesmo período 520 autorizações para novas construções nos municípios de Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato e Mairiporã. Ao todo, a área dessas construções ocupa 137 hectares, o que corresponde a 0,8% da mata nativa.

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