O contraponto do crescimento


 

Ana Carolina Moreira Ayres*

Os dados publicados no jornal O Estado de S.Paulo deste último domingo (16/03) afirmam o que já era percebido aos olhos de muitos cidadãos atentos de São Paulo. A crescente perda de cobertura vegetal da Serra da Cantareira registradas nos últimos três anos pelo Inpe revela que o impacto causado na unidade de conservação supera territórios administrativos e divisões de classes.

É conveniente frisar que o Parque Estadual da Cantareira (PEC) localiza-se na maior parte da Serra da Cantareira, mas não a abrange no todo. Alguns dados já nos indicavam que os municípios da face norte do Parque Estadual da Cantareira (Caieiras e Mairiporã) representavam sério risco para a integridade da área de conservação, com loteamentos de alto padrão.  Esse tipo de loteamento é o que mais cresceu nos últimos 40 anos e tem a cultura de eliminar a floresta nativa para a divisão dos lotes. A perda de cobertura vegetal nativa, entre 1962 e 1994, foi em média de 50 hectares por ano.

Já a face sul da Serra da Cantareira (São Paulo e Guarulhos) caracteriza-se por uma expansão urbana progressiva, mas sobre campos já descobertos de vegetação original, como verificado nas fotos aéreas da reportagem do jornal.

Múltiplas interferências devido ao avanço demográfico da Região Metropolitana de São Paulo são verificadas ao longo dos anos. No entanto, notamos que o tamanho total cresceu devido às áreas agregadas através de leis compensatórias. As áreas agregadas correspondem a aproximadamente 40% desde a criação do parque, em 1963. O problema é que muitas dessas glebas precisam ser recuperadas.

Além disso, a conservação de uma área natural é complementada pelo uso adequado da terra no entorno, pois certas atividades realizadas fora de seu domínio podem repercutir de forma negativa em seu interior, degradando-a. Áreas protegidas são gerenciadas como locais isolados do contexto regional ou local, mas estão em constante conexão com o entorno através de relações econômicas, sociais, culturais e ecológicas. Então, pensar em conservação é, antes de tudo, pensar em uma prática social.

Chegamos a um momento em que começamos a criar reservas das reservas. Ou seja, reservas particulares ou públicas que servem como zonas-tampões e que são umas das únicas alternativas viáveis para a conservação da integridade das unidades de conservação situadas dentro ou próximo a grandes centros urbanos.


* Ana Carolina Moreira Ayres é mestre em História Social pela PUC-SP, educadora ambiental e gestora de projetos socioambientais na Região Metropolitana de São Paulo. Autora do livro O Ciclo da Caapora: a RMSP e o Parque Estadual da Cantareira, (editora Annablume – lançamento previsto para abril/08).


 

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