Fonte: O Estado de S. Paulo
Pesquisa que será apresentada hoje em Brasília aponta adoção simultânea de 10 ‘boas práticas’ pela rede escolar
Ana Paula Scinocca
Apesar de não haver uma receita única, pesquisa fechada no final do ano passado e divulgada agora mostra que há dez metas indispensáveis para oferecer educação básica com qualidade e fazer da aprendizagem ferramenta de progressão social. A aplicação sistemática dessas metas transformou 37 municípios brasileiros – 0,66% das 5.564 cidades do País – em campeões de aprendizagem escolar.
Em todos os municípios vigora uma regra de ouro: ‘Um a um, nenhum a menos’. Ou, como dizem os professores de Marilena (PR), ‘a agente não deixa nenhum aluno para trás’. O que, na prática, foi sentido por um estudante da escola municipal de Guaramirim (SC) desta maneira: ‘Os professores insistem, insistem, até a gente aprender’.
A pesquisa Redes de Aprendizagem-Boas Práticas de Municípios que Garantem o Direito de Aprender foi feita pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Ministério da Educação/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). Os dados serão apresentados e debatidos hoje, em Brasília, no Fórum da Undime.
Nas 37 cidades onde governo, professores e pais sustentam um pacto pelo ‘direito de aprender’, as dez práticas sistemáticas são: 1) gestão para a aprendizagem, isto é, organizar a escola com o objetivo de chegar a um ‘ensino de resultados’, que é fazer com que o aluno aprenda; 2) prática de rede, que vem a ser a integração de todas as escolas do município a um mesmo método de trabalho; 3) planejamento, que envolve, obrigatoriamente, os pais dos alunos; 4) avaliações; 5) valorização dos professores; 6) investir na formação contínua dos docentes; 7) valorização da leitura; 8) atenção individual aos alunos; 9) agenda de atividades complementares e 10) parcerias envolvendo áreas da saúde, esporte, cultura e assistência social. Como destaca o relatório, ‘o bom desempenho não (pode) ser creditado a fórmulas ou atividades complexas’.
A única complexidade está na fórmula criada (leia texto abaixo) para definir os 37 municípios alçados à condição de campeões de aprendizagem: uma parte do Indicador de Efeito Redes Municipais (IERM-Ideb) foi tirada dos resultados dos alunos ao fazer as provas que compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A outra parte da pesquisa e do indicador final levou em conta a condição socioeconômica dos alunos e dos municípios e como mesmo em situações adversas as redes de ensino obtêm resultados fora do padrões médios. ‘Capricho’ foi uma das palavras-chave que resumiram as principais atitudes das redes de excelência, que para os professores e os pais dos alunos significam o seguinte: ‘Ninguém se deixa imobilizar pelas dificuldades.’
Em 29 dos 37 municípios há uma prática generalizada de incentivo à leitura. E, em vez de estantes com livros arrumadinhos, as escolas criam ambientes de bibliotecas ambulantes que usam ônibus, baús, carrinhos de mão e até jegues.
As redes escolares trabalham um fluxo de informações sobre práticas bem-sucedidas, o que gera um compromisso de toda a comunidade com as questões locais e com a qualidade da educação. Isso quer dizer que o aluno não é só de uma professora, mas de toda a rede. O professor não está sozinho, é parte da equipe da escola e da rede.
A simplicidade na resposta de dois profissionais de educação – um de João Monlevade (MG) e outro de Carmo do Rio Verde (GO) – despertou a atenção das 18 pesquisadoras que fizeram o trabalho de campo. Ao exemplificar como via o real compromisso com o aprendizado dos alunos, um dirigente da cidade mineira disse: ‘Aqui é tudo pedagógico.’ E, à mesma pergunta, uma professora da cidade goiana assegurou: ‘A aula é gostosa, prazerosa. Educação é movimento.’ A ‘prática de rede’ foi assim traduzida pelo pai de um dos entrevistados na Escola Municipal São Caetano, em Arroio do Meio (RS): ‘A escola é de todos nós.’
Além dos dez pontos mais citados, os entrevistados apontaram alguns outros aspectos considerados importantes: acesso à educação infantil, interação com as famílias e comunidade, prática por projetos, respeito ao tempo escolar, infra-estrutura, perfil e papel da direção escolar.
Pesquisa tem informações sociais e prova
Para realizar a pesquisa Redes de Aprendizagem foi criado o Indicador de Efeito de Redes Municipais (IERM-Ideb). Uma parte do resultado saiu do desempenho dos alunos do ensino fundamental nos exames padronizados, de 2005, como a Prova Brasil, que compõe o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Foram selecionadas as redes de ensino municipal que tiveram nota igual ou maior que 4.
O IERM foi tirado de uma avaliação do perfil socioeconômico dos alunos, das famílias e dos municípios. Incluiu até variáveis como participação no Bolsa-Família, em que série o aluno entrou na escola, se ele mora com a mãe e o pai, o grau de instrução da mãe, além de porcentuais de alunos da escola que trabalham fora ou realizam trabalhos domésticos por mais de 3 horas. Também foi considerado o porcentual de alunos cujos pais os incentivam a estudar.
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