Fonte: O Estado de S.Paulo
Estudo da ANTP coloca coletivos em último lugar; GPS e controle por rádio poderiam melhorar o serviço
Valéria França
O médico paulistano Danilo Luciancencov, de 33 anos, não pensa duas vezes para deixar o carro na garagem, quando pode ir de metrô para os hospitais onde trabalha. Ele mora próximo da Avenida Paulista, região central com boa infra-estrutura de transporte público. Mas, se a única opção for o ônibus, o médico vai mesmo de automóvel. “Não dá para pegar ônibus. O tempo de espera no ponto é muito grande e a viagem, demorada. Não tem segurança. Além disso, você vai chacoalhando o caminho todo.”
Luciancencov não está sozinho. A falta de segurança, conforto e eficiência dos ônibus é um dos grandes motivos para a maioria dos paulistanos não trocar o carro pelo coletivo. De acordo com pesquisa de opinião feita anualmente pela Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP) sobre a qualidade dos meios de locomoção, 58% dos paulistanos consideram o ônibus ruim ou péssimo. No estudo, os coletivos aparecem como o pior meio de locomoção.
“Enquanto o governo oferecer transporte de gado para a sociedade, a classe média não vai aderir ao transporte público”, diz o consultor em trânsito e transporte Luís Antônio Seraphim. “Ninguém abandona a privacidade e a segurança do carro para pegar um ônibus que não oferece nenhum tipo de vantagem. É só reparar na expressão de desânimo no rosto das pessoas que olham pela janela do ônibus lotado durante a viagem, para saber que não estão passando bons momentos.”
EFICIÊNCIA
Não faltam modelos eficientes pelo mundo. Na França, a frota parisiense é equipada com GPS, acessório indispensável para o controle de circulação da frota. Em Paris, em cada ponto há um painel eletrônico informativo com a previsão de chegada do próximo veículo, o que permite ao passageiro aproveitar o tempo de espera para ir, por exemplo, ao banco ou tomar um café, sem medo de perder a condução.
“A ausência de um controle desse tipo faz o passageiro ficar desesperado. Aqui, passa um veículo lotado e todos querem entrar, mesmo sabendo que ficarão espremidos como numa lata de sardinha por muitos quilômetros”, diz o consultor em engenharia de tráfego e transporte Horácio Augusto Figueira. O receio do paulistano é ter de esperar muito tempo pelo próximo ônibus da linha – o que causa empurrões e até brigas.
Segundo Figueira, se além do GPS o ônibus paulistano tivesse um sistema de comunicação por rádio, a central de controle poderia distribuir melhor a circulação dos veículos, evitando situações comuns, como quando dois ônibus da mesma linha passam ao mesmo tempo no ponto. “A central poderia espaçá-los pelo trajeto, pedindo para que um motorista acelere e o outro diminua a velocidade. Poderia ainda determinar que o ônibus mais cheio só parasse para o desembarque e o mais vazio recolhesse os passageiros.”
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