Mancha verde de 149 mil m2 vai sumir do mapa de SP

 

Fonte: Folha de S.Paulo

Dois terrenos na zona sul da cidade serão loteados para construção de casas

Para desmatar 1.560 árvores, donos do terreno fecharam acordo com a prefeitura para manter parte das plantas e replantar em outras regiões

CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

São Paulo vai perder uma das últimas manchas verdes de sua área urbana. Dois terrenos vizinhos no Alto da Boa Vista, área nobre de Santo Amaro (zona sul), que juntos formam um bosque de 149,4 mil m2 -equivalente a 21 campos de futebol ou três vezes o parque Trianon, na Paulista- serão loteados para a construção de casas de alto padrão.

Para remover 1.560 árvores do local, os donos do terreno fecharam um acordo com a prefeitura por meio de TCAs (Termos de Compensação Ambiental), comprometendo-se a manter parte das plantas e replantar outra parte em pontos espalhados pela cidade. Esse tipo de acordo é cada vez mais freqüente -em 2007 foram assinados 195 TCAs, 343% mais do que em 2005.

Uma comparação de fotos de satélite antigas e novas mostram que áreas antes verdes, quando loteadas para a construção de casas, deixam pouco ou quase nenhum espaço para as árvores.

O agrônomo e ecólogo Waldir Mantovani, vice-diretor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP Leste, diz que o isolamento cada vez maior das manchas atrapalha a vida animal e o ciclo das águas. "Não importa se a área é pública ou mesmo se a vegetação não é toda nativa, esses pontos formavam corredores para animais e eram pontos permeáveis para a água ter seu curso natural", diz.

O presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, Carlos Bocuhy, acha que as compensações ambientais acertadas com a prefeitura não são suficientes. Para ele, não se pode substituir árvores por mudas. "O problema no Brasil é que ainda se tem direito a propriedade privada de áreas nativas, e o governo se vê obrigado a fazer acordos. Os espaços verdes são uma necessidade para agora. A falta deles tem causado, por exemplo, essas enchentes cada vez mais constantes. Não dá para esperar outras árvores crescerem."


Empresas dizem que maioria das árvores ficará

As duas empreendedoras responsáveis pelo loteamento dos terrenos no Alto da Boa Vista têm TCAs (Termos de Compensação Ambiental) com a prefeitura. Segundo elas, a maior parte das árvores será mantida, apesar das novas casas.

O diretor da Campuig, Antonio Luiz Esteve, diz que serão preservados cerca de 20 mil m2 -que formarão um bosque para o futuro Parque Municipal do Alto da Boa Vista- e que a mata nativa está concentrada neste espaço. "O restante, foi meu avô que plantou depois que chegou aqui, nos anos 30", diz.

A empresa será responsável também por construir a sede do parque em outros 20 mil m2 de um terreno vizinho que já pertencia à prefeitura . O TCA prevê ainda a entrega de 33 mil mudas para o viveiro municipal e a transferência para a prefeitura de uma área de 192 mil m2, em M’Boi Mirim, bairro quase todo em área de proteção ambiental, na zona sul.

A JMT Empreendimentos -empresa que pertence à Inpar- também vai preservar 20 mil m2 do bosque e torná-lo parte do mesmo parque municipal do Alto da Boa Vista. O restante do terreno será um condomínio de cerca de 50 casas, que ainda não foi lançado oficialmente.

A empresa já pagou parte da compensação ambiental com obras na Escola Municipal de Astrofísica e do Museu Afro-Brasileiro, no Ibirapuera. O TCA diz ainda que a JMT deve plantar 5.000 mudas em terreno externo, 210 na área do novo condomínio e entregar outras 11.970 ao viveiro municipal.

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