Até as praças de São Paulo são pensadas para os carros

 

Tendência urbanística que transformou espaços em rotatórias para separar vias e organizar tráfego começou em 1970; degraus, muretas, calçadas estreitas e falta de bancos afugentam pedestres.


Por Da redação

O urbanista Sun Alex procura um lugar para se sentar no Largo do Arouche. Se fosse há duas décadas, seria mais fácil. Nos anos 80, havia cerca de 30 bancos ali. Em 2000, 11. Hoje há 5. Ele se senta no banco improvisado do engraxate Luiz Rosa, que trabalha ali desde 1976 e testemunhou o desaparecimento dos assentos.

As praças paulistanas cada vez “menos convidativas” foram estudadas pelo arquiteto no doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Para ele, a cidade erra há quatro décadas ao projetar suas praças.

Os problemas nas praças paulistanas começaram com a Roosevelt, segundo Alex, inaugurada em 1970. Ele vê nesse projeto, de 1967, o aparecimento do que marca o planejamento urbano da capital até hoje: o traçado que privilegia os automóveis.

O trabalho de Sun se tornou o livro Projeto da Praça: Convívio e Exclusão no Espaço Público (editora Senac São Paulo, R$ 92), que será lançado hoje, às 18h30, na livraria Martins Fontes (av. Paulista, 509).

No livro, ele analisa seis praças do centro (veja quadro ao lado), mostrando por que um lugar que deveria ser ponto de encontro não é freqüentado. Degraus, muretas, calçadas estreitas, excesso de vegetação afastam as pessoas, diz. “Mesmo com bom desenho, nem sempre a praça funciona. Se o tempo de semáforo não for gentil, as pessoas não atravessam a rua e acabam inibidas de freqüentar o lugar.”

D. José Gaspar n Projeto inicial, que interligava rua, jardim e Biblioteca Municipal Mário de Andrade, descaracterizou-se na década de 1980 com a transformação da rua Marconi em calçadão e o gradeamento da biblioteca.

Pça Roosevelt Primeira praça que segue o urbanismo norte-americano, projetada privilegiando o fluxo de automóveis ao seu redor: suas três esquinas são acessos viários. A praça se eleva como um edifício.

Praça da Liberdade
Possui dois espaços distintos: a praça da cidade, com calçada ampla, integrada ao entorno, e a praça do metrô, rebaixada e isolada.

Praça Santa Cecília
Fechada ao público em 1996, por conta do vanda- lismo, o excesso de vegetação contribuiu para que a praça desse errado.

Largo do Arouche
Possui dois setores distintos: um muito freqüentado preserva características do início do século 20; outro, pouco usado, foi mutilado para dar lugar a ruas e alças de acesso às ruas e avenidas do entorno.

Praça Júlio Prestes
Inaugurada com a Sala São Paulo, possui muitas muretas, elevações de terra e obstáculos para o pedestre. De um lado da praça não é possível enxegar o outro lado. A praça serve quase só como uma rotatória.

 

 

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