Bairros saturados ganham mais carros

 

Fonte: O Estado de S.Paulo

Sérgio Duran e Rodrigo Brancatelli

Os bairros de São Paulo que mais recebem lançamentos imobiliários, novos shoppings e até mesmo câmpus universitários estão entupidos. A Prefeitura sabe há pelo menos seis anos da existência de dez distritos completamente saturados – onde há muito mais carros circulando do que ruas para abrigá-los. E, por falha da legislação, continua aprovando novos projetos para essas áreas. Uma conseqüência disso pôde ser sentida anteontem, quando a cidade registrou um congestionamento recorde à noite: 266 quilômetros de vias paradas às 19h30.

Uma pesquisa de 2002 da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) mostra que a empresa constatava a existência de dez distritos esgotados e de outros sete que se esgotariam em dez anos. Um dos que já estariam saturados é o de Perdizes, na zona oeste, onde há um mês foi inaugurado o Shopping Bourbon. Apenas esse novo centro de compras atrai 2,1 mil carros por hora a Perdizes. Nos últimos três anos, segundo um estudo da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), o distrito de Perdizes foi um dos campeões em lançamentos imobiliários – exatos 64 prédios residenciais, ou 4.468 unidades, perdendo apenas para o Morumbi.

Se forem levados em conta os dez distritos que já estão saturados, o número de lançamentos residenciais nos últimos três anos também impressiona. Foram 178 condomínios, um total de 11.206 unidades. Isso sem contar empreendimentos comerciais, lojas, shoppings, escolas, hospitais, supermercados… Para se ter uma idéia, apenas um edifício de 50 apartamentos leva cerca de 75 veículos às ruas nos horários de rush. E o problema não está apenas no número expressivo de novos prédios. O distrito José Bonifácio, por exemplo, aparece como saturado, apesar de estar no extremo leste de São Paulo, onde o tráfego nem é medido. Mas a região aparece como afogada em veículos, simplesmente porque a Prefeitura não construiu ruas para acompanhar a urbanização.

Segundo Chico Macena (PT), vereador e ex-presidente da CET na época da pesquisa, o estudo foi realizado como base para uma proposta de revisão da lei que trata dos pólos geradores de tráfego. Atualmente, quando um empreendimento é considerado pólo gerador acaba submetido à análise da CET. Mas só passam por essa verificação edifícios comerciais com mais de 200 vagas de garagem e residenciais com mais de 500. E, ainda assim, a construção nunca é vetada pela CET. “Desde aquela época discutimos o mesmo problema: a legislação atual não dá amparo para debater os pólos geradores de forma conjunta, o que mascara a insuficiência de sistema viário, porque não dá visão do todo”, afirma Macena. Além disso, especialistas criticam o fato de a legislação atual propor apenas medidas mitigadoras, ou seja, de redução de danos.

 
Copyright © Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

 

 

Compartilhe este artigo