Fonte: O Estado de S.Paulo
Além do aumento dos veículos, faltam novas ruas e avenidas, que estão concentradas em bairros ricos
Sérgio Duran
Professora da Universidade Mackenzie, a urbanista Silvana Zioni trabalhou durante dois anos na confecção da pesquisa que comprovou a existência de bairros saturados em São Paulo. Segundo ela, a velocidade com que regiões da cidade eram ocupadas fez o estudo ficar ultrapassado antes mesmo de ser concluído.
Exemplo emblemático disso, recorda a especialista, foi o caso da região da Rua Funchal, na Vila Olímpia, zona sul. “Começamos a analisar o impacto dos empreendimentos conjuntamente, contando oito lançamentos. No fim do estudo, após um ano, eram 20, tamanha a velocidade com que a região era ocupada”, diz.
A conclusão foi a de que as ruas daquela área não comportavam o número de veículos previstos nas vagas de estacionamento de cada um dos novos prédios, mais de 30 mil no total.
Em alguns empreendimentos, a urbanista chegou a propor uma mudança no leque de atividades. “Há espaços da cidade que provocam fluxo constante de veículos ou, então, a junção de vários prédios que geram pico de trânsito, porque prevêem a entrada e a saída das pessoas na mesma hora”, explica. “Os pólos geradores não são os culpados pelo caos no trânsito, mas acentuam nossas deficiências estruturais.”
Para Silvana, faltam ruas e avenidas em São Paulo. “O mais grave disso, porém, é a má distribuição do sistema viário, que é concentrado demais em alguns bairros. A injustiça de São Paulo é que poucos detêm o melhor, tanto do transporte coletivo quanto do sistema viário”, afirma a urbanista.
“Por isso, distribuir melhor os pólos geradores de tráfego pela cidade poderia criar uma dinâmica melhor, levando até mesmo sistema viário onde há pouco”, considera. “E o setor imobiliário de São Paulo tem capacidade e dinamismo para fazer isso. Quem diria que o entorno do Ceagesp iria se transformar em um bairro de alto padrão?”, questiona Silvana. “É um setor que consegue fazer o que quiser.”
Além dos problemas apontados pela pesquisa, especialistas em trânsito criticam o fato de a legislação atual propor apenas medidas mitigadoras, de redução de danos, de não ter o poder de veto de um empreendimento localizado em bairros saturados e, principalmente, de não dar à CET, instância técnica, o poder de enquadrar os lançamentos imobiliários. A companhia analisa os empreendimentos, mas quem propõe as medidas é a Secretaria de Transportes, mais sujeita à pressão política.
“A lei atual é muito limitada para conter o processo de saturação”, diz o urbanista Nabil Bonduki, professor da Universidade de São Paulo. Para ele, o Plano Diretor propôs um freio no adensamento e instituiu a cobrança de taxa para controlá-lo, justamente para tentar impedir o estrangulamento do sistema viário de alguns bairros da cidade. “Precisamos de uma lei que simplesmente vete alguns empreendimentos, sem que, com isso, o crescimento econômico da cidade fique comprometido”, afirma.
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