Fonte: O Estado de S.Paulo
Na década seguinte, será a vez de Morumbi e Pinheiros ficarem inviáveis
Rodrigo Brancatelli e Sérgio Duran
Há seis anos, a CET sabe onde estão os lugares que na próxima década terão problemas de trânsito. E, como os paulistanos podem começar a perceber nos horários de pico, eles não são poucos – na cidade em que há mais de um novo empreendimento imobiliário por dia, locais como Saúde, Campo Belo, Santana, Vila Andrade e até Cidade Tiradentes, na extrema zona leste, poderão ficar insuportáveis até 2012. Outros, como Alto de Pinheiros, Morumbi e Vila Formosa não suportarão o adensamento até 2022.
Segundos especialistas ouvidos pelo Estado, essa conta da CET pode parecer até mesmo otimista, senão ingênua. Isso porque o mercado imobiliário está cada vez mais aquecido – e a legislação, cada vez mais caduca. Em 2007, em toda a região metropolitana, houve 564 lançamentos, num total de 59,5 mil apartamentos. Um número 22% maior do que 2006 e 30% maior do que em 2005. Segundo a Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), desde 1986 não havia tantos lançamentos imobiliários – naquele ano, foram 677. “Para se ter uma idéia da encrenca, em 2007 tivemos 30% mais lançamentos de imóveis de quatro dormitórios do que em toda a década de 90”, diz o diretor da Embraesp, Luiz Paulo Pompéia. “E esses prédios invariavelmente sempre têm muitas garagens, muitos carros…”
Até mesmo as empresas do setor começam a perceber os efeitos negativos de tantos empreendimentos juntos, sem nenhum tipo de política de redução de danos. “Quando você tem núcleos urbanos mal identificados como os de São Paulo, é complicado. O problema é menos a densidade e sim o tipo de adensamento que se faz, sem pensar no pedestre, na qualidade de vida do bairro, na forma mais inteligente de ocupar aquela região”, explica o engenheiro e arquiteto Guilherme Auriemo, da construtora RMA.
Auriemo faz intercâmbio com um movimento americano chamado New Urbanism (Novo Urbanismo), que prega o conceito do “bairro sustentável”. Segundo ele, pelo menos nos Estados Unidos o New Urbanism propõe ações conjuntas entre os envolvidos no setor imobiliário para fazer uma ocupação sem estrangular o trânsito.
O presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi), João Crestana, considera que a pesquisa está desatualizada. “De 2002, para cá, a capital ganhou pontes, viadutos, túneis. A cidade é dinâmica”, afirma. “Outros instrumentos de medição da expansão da área construída e do trânsito estão sendo desenvolvidos na Prefeitura e no Secovi.”
Crestana diz ainda que o setor aposta no conceito de “bairro sustentável” para enfrentar o aumento dos congestionamentos. “Sabemos muito bem que o trânsito é gerado pelo vaivém diário, pelas pequenas viagens ao mercado, à lavanderia, ao cabeleireiro, à escola. Ter tudo perto mudaria essa situação. Um bairro sustentável é aquele que dispõe de tudo muito próximo, até mesmo o emprego.”
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