São Paulo: qual a parte que te cabe

 

Juliana Belda – Projeto Repórter do Futuro

A disputa por espaço e os problemas de mobilidade paulistas foram os temas de abertura do 1o Fórum do Movimento Nossa São Paulo. Pedestre, motociclista, motorista de ônibus, ciclista, taxista, metroviário, além de representantes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e do governo, discutiram nessa manhã alternativas para o transporte e para o convívio saudável de todas as categorias.

“Os assuntos são tratados com uma individualidade feroz”, disse Arturo Alcorta, bike repórter da rádio Eldorado, um dos componentes da mesa. Aqui, sem tanta ferocidade, segue o que foi comentado:

São Paulo

“Eu diria que já parou”, afirma Renato Pires de Carvalho Viegas, Coordenador de Planejamento e Gestão da Secretaria Estadual dos Transportes. Ele explica que a mancha urbana da metrópole se expandiu com grande velocidade nas duas últimas décadas e para a periferia. Esse fato acarretou em uma inadequação da cidade, que passou a ter uma infra-estrutura subutilizada no centro enquanto há falta de recursos nas regiões periféricas e, portanto, necessidade de meios de locomoção.

Carros

Kátia Vespucci, assessora da gerência de operações da CET, dá os números: 15 mil km de via e 6 milhões de veículos, sendo que estes estão concentrados nas mãos de apenas 30% da população, de acordo com Eduardo Jorge, Secretário Municipal do Verde e do Meio Ambiente.

Apesar dessa porcentagem, Jorge Miguel dos Santos, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento e Para Turismo de São Paulo e Região, salienta que as construções viárias priorizam os carros. 233 milhões foram gastos na Ponte Estaiada, inaugurada 10 maio. Nessa ponte só circulam carros.

E esse não é o único exemplo de vias exclusivas para automóveis. Jorge Miguel cita também os túneis Rebouças e Ayrton Senna.

Ele acrescenta que um carro custa 27 reais por mês para o governo, o que parece pouco, mas não quando multiplicado por 6 milhões. Por ter tamanho custo, Eduardo Jorge defende o pedágio urbano. Essa medida não só viabilizaria as propostas para o transporte coletivo, pois não há verbas públicas suficientes para investimento, como desestimularia o transporte individual. ”Carro é para movimento esporádico e não pendular”, diz o secretário.

Representantes dos fabricantes de carros foram convidados para o evento, mas nenhum compareceu.

Pedestres

“Todos os espaços estão ocupados por carros, até mesmo as escadas agora”, brinca Assunción Blanco, pedestre, referindo-se ao Corolla que invadiu escadarias na avenida Paulista na última terça-feira. Mas a brincadeira dura pouco, e com tom de indignação, Assunción também dá números: 17 mil km de via pressupõem 34 mil km de calçadas, entretanto apenas 6 km estão sendo reformados.

Para ela, os munícipes com calçadas irregulares deveriam ser multados, o que a pedestre classifica como “caça níquel a céu aberto” para os investimentos em mobilidade. Além disso, postos de gasolina, que adequam suas calçadas para carros, e comércios que se estendem no passeio público deveriam ser igualmente punidos. Bem como condomínios com lixeiras e guaritas.

No entanto, o problema dos pedestres vai muito além da calçada: não há respeito por eles, que exige uma campanha de reeducação para todos os motoristas. Segundo Assunción, são dois pedestres mortos por dia.

Bicicletas

São Paulo tem 30 km de ciclovias. 25 deles concentram-se em parques, os outros 5 não levam a lugar nenhum. Ou seja, a metrópole não possui nenhuma infra-estrutura para ciclistas.
Arturo Alcorta, que é ciclista há 28 anos acredita que a bicicleta é viável em São Paulo. Segundo ele, são 370 mil ciclistas por dia.

O ciclista afirma que 750 km de ciclovia já poderiam ter sido implantados se as leis brasileiras não trouxessem tantos entraves aos projetos. Eduardo Jorge conta que está sendo feita uma ciclovia que liga Itaquera ao Carrão, além da implantação de bicicletários nos metrôs, para integração entre esses meios, no entanto ainda é pouco.

Táxi

Davi Francisco da Silva, taxista a 5 anos, começa com números, como a maioria: 33 mil taxistas cobrindo 900 mil km na cidade. Cada um roda aproximadamente 150 km por dia.

Mas não são esses números que geram assunto e sim as cifras: andar de táxi é caro. Davi afirma que esse custo poderia ser reduzido, não fossem as normas a que os táxis são submetidos. O exemplo é sua própria rotina: trabalha em um ponto no Ibirapuera. Caso tenha que levar um passageiro à avenida Voluntários da Pátria, na zona norte, não pode parar em um ponto e esperar por outro passageiro. Ele deve voltar ao Ibirapuera, gastando mais combustível, gerando trânsito e possivelmente com o carro vazio. Todos esses fatores aumentam o custo, que acaba revertido para o passageiro.

Ônibus

Renato Pires Viegas aponta que, em 1997, o uso transporte coletivo já perdia para o individual. Os motivos são lotação e lentidão, sobretudo.

Os corredores são tidos que solução para a velocidade desses veículos. Atualmente, está sendo implantado o Corredor Tiradentes, e há projetos para outro corredor em São Miguel até a avenida Celso Garcia, de acordo com Eduardo Jorge. Entretanto, o aumento das faixas exclusivas não é suficiente, de acordo com o secretário, mas uma mudança em seu sistema. Os corredores, para ele, deveriam funcionar como troncos, apenas fazendo a ligação entre outras linhas que seguem para os bairros, como um metrô.

Luiz Gonçalves, Diretor do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano, sugere que haja corredores reversíveis nos horários de pico.
Esse não é o único problema. Há necessidade de renovação da frota, já que ainda circulam mais de mil veículos com mais de 20 anos em São Paulo, poluindo, quebrando nas vias e trazendo riscos aos passageiros.

Outras alternativas viáveis são o ônibus fretado e o trólebus, que tem índice de poluição nulo, entretanto, Eduardo Jorge questiona: “onde eles foram parar?”.

Moto

Todos reclamam da buzina, do retrovisor quebrado, mas todos usam os serviços dos motoboys, comenta Gilberto dos Santos, presidente do Sindicato dos Motociclistas. Ele complementa como o fato de que motoboys são uma categoria que surgiu para resolver os problemas que os outros veículos criaram, e reclama do descaso do governo e da discriminação da sociedade.

A faixa exclusiva é o principal projeto. Gilberto afirma que elas reduziriam os roubos a carros e acidentes, lembrando que em 2007 morreram 400 motociclistas e 2000 foram para o hospital em estado gravíssimo.

Metrô

Tido como a melhor solução para São Paulo, o metrô só piorou seu histórico de 1990 para cá. Wagner Gomes, presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, afirma que até a década de 1990 o ritmo de construção de linhas de metrô era lento, mas havia. Essa construção foi interrompida e, além disso, houve diminuição de funcionários. Segundo Wagner, quando transportava 1,5 milhão de passageiros, o metrô tinha 11 mil funcionários. Hoje, transporta 3 milhões de pessoas para 7 mil funcionários, prejudicando a manutenção dos trens.

Além disso, ele salienta que quanto mais se demora para construir mais linhas, mas caro fica, pois há crescimento imobiliário e os custos de desapropriação são altos.

 

 

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