Quem anda por São Paulo sabe o que diz

 

Foto: Paulo Fehlauer

Tatiane RibeiroProjeto Repórter do Futuro

Encontrar soluções para o trânsito de São Paulo. Esse foi o tema do debate São Paulo Vai Parar? A Crise de Mobilidade na Cidade do 1˚ Fórum Nossa São Paulo – Propostas para uma Cidade Justa e Sustentável. Enquanto especialistas e porta-vozes do governo (em suas várias instâncias) davam dados de pesquisas e falavam sobre as propostas de cada segmento, pessoas comuns, que vivem os problemas do trânsito todos os dias, falaram sobre as suas experiências e sobre como tornar São Paulo novamente uma cidade com mobilidade.

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“Essa cidade [São Paulo] virou um celeiro de competidores”, diagnostica Davi Francisco da Silva, taxista há 5 anos. Informado por uma passageira sobre o fórum, fez questão de comparecer e dar sua opinião. Preocupado com o futuro do trânsito em São Paulo e da sua categoria, Davi encaminhou para a Câmara Municipal, rádios da cidade e para o número da Prefeitura (156) algumas propostas para diminuir a quantidade de acidentes. Entre elas, reeducação de pedestres e semáforos com temporizador. Apesar das inúmeras tentativas de contato, a única proposta utilizada foi a de diminuição da velocidade dos ônibus nos corredores de 60 para 50 km/h. “Boa parte dos semáforos da cidade poderiam ser desligados se nós respeitássemos as faixas de pedestres”, alega ele.

Enquanto isso, entre os carros, as motos continuam buzinando e buscando seu espaço. Para o presidente do Sindicato dos Motoboys de São Paulo, Gilberto dos Santos, os motoboys fazem parte de “uma categoria muito sofrida”. Ele diz que os motociclistas profissionais ainda são muito marginalizados. “Você passa de carro e vê um motoboy caído e fala que ele estava correndo demais. Às vezes foi um carro que mudou de faixa sem seta e derrubou a gente”. Ele reclama que os motoristas, apesar de sempre culpar os motoboys, são responsáveis por inúmeros acidentes por falarem ao celular enquanto dirigem, além de não usarem as setas e os retrovisores ao mudarem de faixa. Para Gilberto, os motociclistas deveriam ter a última faixa da esquerda como exclusiva, para poderem circular com facilidade e diminuir o número de acidentes.

Sem condições de se impor como os motoboys, os maiores prejudicados pela falta de infra-estrutura são, para Assuncion Blanco, os pedestres. Sem calçamento mínimo para transitarem, a maioria acaba sendo obrigada a andar no meio da rua, enquanto encontram espaço entre os carros estacionados e os que estão em movimento. O resultado dessa falta de espaço próprio decente é a morte por atropelamento de 2 pessoas por dia. “Isso porque eu estou falando de pedestres sem nenhuma condição especial. Dê a ele um carrinho de bebê, andador, bengala, cadeira de rodas. Fica impossível transitar”. Nessa questão, ela ainda questiona as rampas de acessibilidade que servem apenas de enfeite, já que vão de encontro com placas de ruas, semáforos e bancas de jornal.

Brigando por um espaço cada dia menor, já que entram na cidade aproximadamente 700 automóveis por dia, essas três categorias buscam soluções que pelo menos minimizem o caos urbano. Mesmo com visões e soluções diferentes, todos concordam que a cidade está parando e que é preciso uma maior atenção das autoridades para obras que possam melhorar a vida de todos. Não se trata apenas de criar pontes onde ônibus não podem circular, mas ampliar as linhas de metrô, reeducar motoristas, motociclistas e pedestres, melhorar as condições das calçadas. Mas eles não tiram a culpa que cada um tem: devemos passar a respeitar mais o espaço do outro.


Debate tem dez convidados na mesa

Além dos representantes dos taxistas, motociclistas e pedestres, participaram do debate o ciclista e integrante da Escola de Bicicleta e do Instituto Pedala Brasil, Arturo Alcorta, o diretor do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano, Luis Gonçalves, o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros por Fretamento e para Turismo de São Paulo e Região (Transfetur), Jorge Miguel dos Santos, o presidente do Sindicato dos Metroviários, Wagner Gomes, o coordenador de Planejamento e Gestão de Secretaria dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, Renato Pires de Carvalho Viégas, a assessora da Diretoria de Operações da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Kátia Vespucci e o secretário Municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge.

Frases

"Não há uma só solução. É preciso esforço pra ter planejamento integrado na cidade: uso do solo, junto com transporte e trânsito."
Kátia Vespucci, assessora da Diretoria de Operações da Companhia de Engenharia de Tráfego

Foto: Andrea Magri

"São Paulo tem 30 km de ciclovias, deveria ter 250 km no mínimo."
Arturo Alcorta, integrante da Escola de Bicicleta e do Instituto Pedala Brasil

Foto: Andrea Magri

"Enquanto não houver pedágio urbano, estaremos falando à toa"
Eduardo Jorge, Secretário Municipal do Verde e do Meio Ambiente

Foto: Andrea Magri

 

 

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