As mídias de massa estão bem atrasadas nas práticas de responsabilidade social, no que refere às relações de trabalho, e também não têm cumprido o papel de democratizar informações sobre ações sustentáveis. A opinião foi consensual entre os participantes da mesa do Debate SER na Mídia, evento integrante da Conferência Internacional Ethos 2008, que termina nesta sexta-feira, (30/05), em São Paulo.
De acordo com Polllyana Ferrari, professora de jornalismo de multimeios da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o espaço dedicado à responsabilidade social no veículos de comunicação “é quase nulo”, com coberturas eventuais, e “não há treinamento para os jornalistas” que cobrem o assunto.
Para Ignácio Ramonet, diretor do jornal Le Monde Diplomatique, “muitas empresas não estão assumindo a responsabilidade de prestar informação de qualidade com suficiente competência”. Ramonet citou como exemplo uma pesquisa realizada com jornalistas dos Estados Unidos, na qual 66% dos entrevistados estimaram que pressões financeiras sobre os meios de comunicação afetam a qualidade da informação.
Outra responsabilidade que a mídia não está cumprindo, segundo Ramonet, diz respeito às más condições de trabalho a que submetem os jornalistas. Além disso, as empresas de comunicação “não pensam na sua responsabilidade” com o meio ambiente, como o tipo de papel e a tinta para impressão que empregam, e quanto contribuem para emissão de gases, por exemplo.
Falta de credibilidade
A mídia vive hoje, em tempo de democracia, uma falta de credibilidade típica de épocas de ditadura, comentou Ramonet durante o debate. O fenômeno está ligado à crise de identidade por que passam tanto o jornalismo quanto os jornalistas – frente às novas tecnologias de informação. Imagens de fatos importantes, como o enforcamento do ditador iraquiano Sadam Hussem ou as torturas na prisão de Abu Ghraib, foram obtidas por cidadãos, não por jornalistas. “Se todos são jornalistas, o que ele [jornalista] tem de especial?”, questionou o diretor do Le Monde. Para Ingrid Bejerman, professora de jornalismo da Concórdia University, o papel do jornalista é fazer a mediação com o público, traduzir a informação passível de ser acessada por todos.
Exemplos positivos
Os participantes também citaram exemplos de iniciativas sustentáveis praticadas por alguns veículos. Júlio Moreno, diretor de jornalismo da TV Cultura, disse que a emissora iniciou nos anos 90 o Repórter Eco, um programa pioneiro voltado para a consciência ambiental, que está no ar até hoje. Além do Repórter Eco, a TV Cultura mantém outros três programas relacionados ao tema sustentabilidade.
Já Ignácio Ramonet informou que 25% das ações do Lê Monde Diplomatique pertencem a trabalhadores do jornal e a leitores (reunidos em associação formada com esse fim). “Isso nos obriga a cuidar da qualidade da informação”, afirma Ramonet. O jornal também exerce responsabilidade sócio-ambiental ao usar papel reciclado e ao buscar cumprir direitos trabalhistas exigidos pelos sindicatos.