As famílias encolhem, as embalagens não


Fonte: Folha de S.Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL

Desperdício de comida é ainda mais comum em casas onde moram duas pessoas ou só uma: muita coisa estraga antes de ser totalmente consumida.

A média anual de compra, no lar onde mora apenas uma pessoa, é de 560 quilos de comida, de acordo com uma pesquisa do IBGE, divulgada ano passado. Nos domicílios onde moram casais sem filhos, a compra per capita é de 509 quilos. Já uma família com filhos compra per capita 324 quilos por ano.

"A gente espera que uma pessoa que mora sozinha gaste menos, não é? Mas isso não acontece", afirma Edílson Nascimento, 57, gerente da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) do IBGE. A proporção da renda reservada para alimentos, de acordo com o IBGE, é muito parecida nos domicílios de casais com ou sem filhos. Em outras palavras, o padrão de compras é semelhante nos dois casos, apesar de haver menos bocas para serem alimentadas em um deles. "Não tem alternativa na aquisição, e aí entra a questão do desperdício", diz Nascimento.

A situação se agrava quando se observa, no Brasil, a tendência de encolhimento dos núcleos familiares. A proporção de domicílios com pessoas morando sozinhas ou com companheiro aumentou 25,7%, entre 1996 e 2006, de acordo com dados do IBGE. São mais de 30 milhões de pessoas e já representam quase um quarto dos lares brasileiros. Já os hábitos de consumo e as embalagens dos alimentos mudam de maneira muito mais lenta.

Mercado "single"


De olho no crescimento desse mercado, aos poucos, a indústria de alimentos aumenta o leque de opções de produtos com embalagens menores. É o caso de alguns pães, queijos e iogurtes. Certas marcas de torradas, por exemplo, são embaladas individualmente na mesma caixa, o que favorece o aproveitamento do produto inteiro.

"As indústrias sabem que têm que se adequar", diz Denis Ribeiro, diretor de economia da Abia (Associação Brasileira da Indústria Alimentícia). Ele cita como exemplos os produtos desidratados, como as sopas em pacotinhos individuais. Para o economista, um dos fatores que pode puxar esse aumento da oferta de produtos alimentícios menores é a conscientização do consumidor, disposto a desperdiçar menos. "A indústria vai correr atrás para atender esse público." (CA)
 

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