Fonte: O Estado de S.Paulo
País já tem 10,6 mi de teletrabalhadores; especialistas aprovam a medida para SP e sugerem aval do governo
Naiana Oscar
Há quem tenha encontrado uma forma de fugir dos congestionamentos de São Paulo: simplesmente não os enfrentam mais. Por iniciativa própria ou incentivados pelas empresas, muitos paulistanos têm optado por trabalhar em casa.
Pesquisa realizada neste ano pela ONG Market Analysis, com 345 trabalhadores em nove capitais, incluindo São Paulo, mostra que o serviço virtual já é adotado por 23% dos funcionários do setor privado. As microempresas são as que mais se utilizam do teletrabalho. Já são 10,6 milhões de teletrabalhadores no País – em 2001, eram apenas 500 mil.
E isso também resulta em produtividade. Segundo um estudo da Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos, a cidade perde por ano R$ 4,1 bilhões com congestionamentos e o paulistano poderia converter em renda 30% do tempo que perde para se deslocar até o escritório. Pelo menos cinco empresas com sede na capital investem em teletrabalho. Entre elas está a IBM. Há cinco anos, a multinacional passou a estimular os funcionários a trabalhar em casa.
Mesa, cadeira, laptop, telefone, banda larga, tudo é reembolsado pela empresa. “O local físico é o que menos importa. Se para ele é melhor, por causa do trânsito e da família, oferecemos essa possibilidade. Sempre com base na confiança e na responsabilidade”, diz a gerente de Recursos Humanos da IBM Brasil, Fabiana Galetol. Apesar dos incentivos, nem todo mundo teve coragem de se aventurar de imediato pelo mundo do home-office. “A cultura do relacionamento gerencial, da presença na empresa, ainda é muito forte.”
Com 29 anos de casa, o gerente de Satisfação do Cliente na América Latina, Fausto Mantovani, de 48 anos, só se rendeu ao “trabalho doméstico” há dez meses, quando sua relação com o trânsito ficou insustentável. “O teletrabalho é uma tendência irreversível nesta cidade.”
Para o professor de Engenharia de Transportes da Universidade de São Paulo (USP) Jaime Waisman, é algo “possível e desejável”. Segundo ele, além de interessar às empresas, pode ser uma contribuição à qualidade de vida da capital, uma vez que reduz o número de viagens. Cerca de 70% dos deslocamentos na cidade são de ida e volta para o trabalho. “Em Los Angeles , o home-office diminuiu em 6% esse tipo de viagem”, observa.
Por conta desse impacto, a Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt) defende que o incentivo ao “deslocamento zero” parta, não só das empresas, mas também do poder público. “Nos EUA e em várias cidades européias, o governo oferece benefícios fiscais para as empresas que adotarem o teletrabalho”, afirma a presidente, Ana Manssour.
Outro defensor é o especialista em empreendedorismo e professor da Business School de São Paulo Álvaro Mello, que esteve neste ano na Flórida (EUA) e conheceu o projeto local de redução de congestionamentos. Entre as estratégias para se alcançar as metas de mobilidade está o teletrabalho. “Duas empresas que visitei recebem incentivos fiscais se provarem que diminuíram o número de carros nas ruas”, disse. “Aqui, todo mundo reclama do trânsito, mas até agora não há nenhuma iniciativa do governo que faça efetivamente as pessoas deixarem o carro em casa.”
EXEMPLOS
Um microempresário paulistano tirou de circulação 60 pessoas em 2007. Ele criou uma empresa de call center em que todos os funcionários, com computador e banda larga, trabalham de casa. “Fomos na cara e na coragem. Não havia isso no País”, diz a diretora comercial da Virtual Call, Cláudia Vaz.
Enquanto isso, os gerentes de negócios da Ticket, empresa do setor de convênio de refeição, começaram a organizar seus horários de casa e as vendas aumentaram 40%. Com a possibilidade de fugir dos congestionamentos da manhã e da tarde, passaram a fazer, juntos, 1.770 visitas a mais por mês. “Nossos gerentes têm total autonomia”, afirmou a superintendente de Vendas da empresa, Dalva Braga.
Com a mesma filosofia, a Nortel, uma empresa de tecnologia, formalizou há um ano e meio a política do home-office. “A cidade está virando um caos e avaliamos que era o momento ideal para tomar essa iniciativa”, diz a diretora de Recursos Humanos, Viviane Gaspari.
Copyright © Grupo Estado. Todos os direitos reservados.