Fonte: O Estado de S.Paulo
Nova tecnologia poderá reduzir tempo de atendimento pela metade
Rodrigo Brancatelli e Camilla Rigi
A poucos segundos para as 17 horas, toca o telefone da base Armênia do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), departamento ligado à Secretaria Municipal da Saúde que atende pelo número 192. Uma senhora com alteração de comportamento precisa ser atendida em Santa Cecília, na região central de São Paulo, a cerca de 3 quilômetros de distância. Com a sirene ligada, a ambulância deixa a base na Avenida do Estado, 900. No mesmo horário, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registra o grande inimigo da equipe médica – exatos 110 quilômetros de lentidão na cidade.
“O trânsito piorou muito nos últimos anos. Temos muitos carros nas ruas e não sobra espaço. Às vezes nem ligo a sirene, porque sei que não tem pra onde o motorista jogar o carro. Mas muita gente sobe nas calçadas para deixar a ambulância passar”, conta o motorista José Antônio dos Santos, de 40 anos, que chegou em cronometrados 11 minutos na ocorrência em Santa Cecília. Apesar das dificuldades no trânsito, o tempo médio de atendimento do Samu caiu de 35 para 18 minutos de 2005 para 2008. Ainda assim, a recomendação internacional é de que as ambulâncias demorarem no máximo de 10 a 12 minutos. “Foram vários fatores que contribuíram para isso, como o aumento das bases de 34 para 57, mas sempre queremos melhorar”, afirma o coordenador de regulação médica do Samu, Domingos Guilherme Napoli.
Na sexta-feira, por exemplo, o Estado acompanhou uma outra ambulância do Samu na Cidade Ademar, zona sul de São Paulo. Pouco antes das 12h30, uma Parati vinho com três ocupantes bateu violentamente na Avenida Interlagos, na altura do número 7.100. O chamado chegou à base às 12h32. Às 12h40, depois de muito costurar no trânsito e abrir passagem à força da sirene pelo mar de carros, a ambulância chegou ao local e começou o pré-atendimento das vítimas.
“Quando eu trabalhava na base de Santana, a gente tinha de se deslocar até lá na Freguesia do Ó. Como agora a área é menor, é mais fácil conhecer os caminhos alternativos”, afirma José Antônio dos Santos, há quatro anos trabalhando no Samu. O motorista confirma que a redução nos percursos facilitou muito o trabalho. Hoje a região que mais concentra bases é a norte, com 16. Em seguida, vêm sul, centro-oeste, sudeste e leste. “Estamos até em Guaianases e em Engenheiro Marsilac”, diz Domingos Napoli.
INVESTIMENTOS
Em São Paulo, a preocupação de vencer os congestionamentos em caso de emergências médicas já começa a virar um “coringa” para planos de saúde e empresas do setor. As principais bandeiras de apólices de seguros compraram em 2007 ou vão comprar neste ano pelo menos cinco novos helicópteros equipados com mini-UTI. Uma multinacional israelense do segmento de monitoramento e recuperação de veículos lançou até um serviço para ajudar pessoas acidentadas – caso o veículo sofra algum impacto, um sensor avisa imediatamente uma central de controle, que envia uma ambulância ao local.
O próprio Samu estuda medidas para atender com mais rapidez a população. Uma delas, que será implementada nos próximos meses, será equipar as 137 ambulâncias com GPS, laptop e um sistema online para facilitar a vida da central e dos motoristas. Enquanto as telefonistas poderão ver na tela do computador onde estão todas as unidades, os motoristas terão indicações do caminho e poderão saber quais ruas estão congestionadas. “Não precisaremos mais falar por voz, saberemos onde está a ambulância em tempo real e enviaremos o chamado pelo computador”, diz Napoli. “Com isso, acredito que iremos diminuir o tempo de atendimento pela metade.”
O Samu também estuda usar motos para fazer o primeiro atendimento. O desafio dos funcionários do serviço, no entanto, não esbarra apenas no trânsito. Das 5 mil ligações diárias, cerca de 1,8 mil têm teor médico e causam, em média, mil saídas de ambulâncias. O problema é que 30% das ligações não passam de trotes, que resultam num prejuízo de R$ 2,2 mil por saída desnecessária. “Tivemos uma ligação para atender uma pessoa com convulsão na Rua do Tesouro, 198, na frente de um banco. Saímos rápido e, quando chegamos, a rua só tem numeração de 25 a 43 e nenhum banco”, lembra Santos. “O trânsito já está difícil e nesses casos a gente tem de atrapalhar o motorista por nada.”
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