Trânsito paralisa serviços de resgate

 
Fonte: O Estado de S.Paulo

Rodrigo Brancatelli

O telefone não parava de tocar, as luzinhas no computador central não paravam de brilhar. E os bombeiros estavam parados, braços cruzados, sem ter o que fazer. No dia 9 de maio, quando São Paulo registrou mais um recorde de congestionamento, com 266 quilômetros de lentidão, o sistema de resgate do Corpo de Bombeiros simplesmente entrou em colapso. As 55 ambulâncias que trabalham dia e noite para atender às chamadas do 193 ficaram travadas no trânsito, sem conseguir chegar às ocorrências ou mesmo levar os pacientes aos hospitais. Não havia uma única unidade disponível para atender às novas ligações ou às luzes incessantes do computador – até que as ruas de São Paulo começassem a fluir novamente, de 10 a 30 paulistanos ficaram sem atendimento.

A equipe de resgate médico dos Bombeiros, um grupo de profissionais dedicados a realizar salvamentos e a enfrentar tragédias, ficou pela primeira vez sem saber o que fazer. “Foi difícil, atrapalhou muito”, diz a médica Júnia Sueoka, que desde 1992 trabalha no setor. O cardiologista Agnaldo Píspico, há três meses nos Bombeiros como plantonista das sextas-feiras, é mais incisivo. E assustado. “Colapsou, não havia recursos para atender todo mundo. Víamos os casos no computador e não tinha o que fazer, era agoniador.”

A agonia de Píspico talvez tenha sido o ponto mais crítico de uma situação que vem se agravando na cidade de São Paulo. Sem trânsito, as ambulâncias dos bombeiros demoram em média 7 minutos para chegar. Nos horários de rush, no entanto, esse tempo salta para 25, 30 e até 40 minutos. Um atendente da corporação conta que, de 12 ocorrências que atende em média por dia, de uma a duas pessoas invariavelmente morrem e talvez poderiam ter sido salvas se o resgate fosse um pouco mais veloz.

Há números ainda mais assustadores. Segundo estudo da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, a taxa de sobrevivência de uma pessoa com parada cardíaca na cidade gira em torno de 1% a 2%. No interior, essa taxa pode atingir de 6% a 8%. Caso o resgate chegasse em até 10 minutos, seria 30%. “A cada minuto que passa temos menos chances de salvar as pessoas”, diz Cecília Damasceno, médica da emergência do Hospital das Clínicas (HC), endereço da grande maioria dos casos graves na cidade.

No dia do congestionamento recorde em São Paulo, quando muitas ambulâncias ficaram paradas, foram realizados 401 atendimentos de emergência no HC. Na segunda-feira passada, um dia mais tranqüilo, houve 571 atendimentos – número 42% maior. “O trânsito sempre atrapalha. Na parada cardíaca, a pessoa precisa ser atendida em até 4 minutos. A cada minuto que passa, há 10% a menos de chance de a pessoa sair com vida. Depois do décimo segundo minuto, quase sempre é óbito. Como a ambulância vai chegar em 12 minutos no rush?”

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