Praças e terrenos baldios viram parques na Capital

 

Fonte: Jornal da Tarde

Áreas pequenas são a aposta da Prefeitura para atingir meta de 100 parques. Alguns são tão pequenos que equivalem a menos da metade de um campo de futebol. Urbanistas elogiam iniciativa, mas falta infra-estrutura em alguns locais

Daniel Gonzales, daniel.gonzales@grupoestado.com.br

Nos nomes, parques. Na prática, têm cara de praças: seis dos novos parques municipais que a Prefeitura já entregou ou vai entregar à população até o fim do ano – os Parques Linear Ipiranguinha, Linear Invernada, Dom Paulo Evaristo Arns, Mário Covas, Sérgio Vieira de Melo e Victor Civita – estão entre os menores da Capital. Eles têm tamanho inferior a 15 mil m², área da Praça da República, no Centro. Outros quatro pequenos parques, todos com áreas menores que 11 mil m² cada, cerca de 0,7% do Parque do Ibirapuera, estão em projeto.

Inaugurar parques rapidamente, mesmo em áreas diminutas, é a ordem na Secretaria Municipal de Verde e Meio Ambiente (SVMA) para cumprir com o prometido no lançamento do programa “100 Parques para São Paulo”, anunciado pelo prefeito Gilberto Kassab em janeiro. Até dezembro, a meta é abrir 33 novos parques – além dos pequenos, áreas de porte, como o futuro Parque Jaceguava, na Zona Sul, com 7 milhões de m².

“Entramos na briga pelas áreas, inclusive com outras secretarias, para evitar que sejam usadas para outras finalidades ou invadidas”, diz Eduardo Jorge, titular da pasta. A aposta, segundo ele, é fazer o máximo possível de parques lineares, em nascentes de córregos e riachos, de modo a preservar as várzeas e minimizar enchentes.

Em visita a alguns dos parques, no entanto, o JT observou que eles sofrem com a falta de infra-estrutura e ainda são quase desconhecidos pela população – nem os vizinhos sabem que são parques, apesar de oficialmente terem essa denominação. Ao contrário dos grandes parques paulistanos, eles têm poucos equipamentos de lazer.

Na Vila Formosa (Zona Leste), o Parque Linear Ipiranguinha, de 10 mil m², não tem grades e vira uma área escura e perigosa à noite. Mais parece uma praça comum. Apesar de reformado, ainda tem brinquedos antigos e grama arrancada em alguns canteiros. Em outra parte, há muito mato. É impossível saber onde começa e onde termina o parque e não havia seguranças no local. “Muita gente vem caminhar aqui, mas eu não sabia que a praça tinha virado parque”, diz o pintor Eduardo de Lima, 34 anos, morador do bairro.

Entulho

Também na Zona Leste, mas em Guaianazes, o Parque Guaratiba aparece como “em implantação” na listagem da SVMA. Lá, pelo menos por enquanto, não há nem sinal de parque. O terreno é descampado, acumula entulho e é desconhecido até pelos funcionários da subprefeitura local. “Parque, aqui no bairro? Onde?”, perguntou um atendente da Subprefeitura de Guaianazes.

No Parque Dom Paulo Evaristo Arns, criado na gestão passada e concluído pela atual, o que mais atrai os freqüentadores é o telecentro instalado no local. O bosque vizinho, de 5.000 m², abriga a antiga residência de veraneio da família Matarazzo. No local, o JT obteve a informação de que o parque ainda não funciona aos domingos e não tem banheiros. Fecha às 17h, porque não tem iluminação, apesar de estar cercado. Não há placas e quem passa ali em frente não vê que lá há um parque municipal.

O espaço denominado Victor Civita, em Pinheiros (Zona Oeste), era praça, mas também vai virar mais um parque. “Estamos raspando o antigo incinerador e aplicando uma nova camada de solo”, diz Jorge. A intenção é conter a contaminação gerada entre 1949 e 1989, quando foram queimadas ali 200 toneladas de lixo por dia.

Para o urbanista Carlos Leite, da Universidade Mackenzie e pós-doutorado pela California Polytechnic State University (EUA), há “marketing” em torno do assunto. “É uma questão política de nomenclatura, é bom para qualquer um dizer que inaugurou tantos parques”, considera. “É óbvio que é ótimo preservar áreas verdes, e é melhor fazer isso em vez de deixá-las morrer, mas alguns desses terrenos são lotes, o tamanho diz tudo.”

Gustavo Cherubine, urbanista do Movimento Nossa São Paulo, também elogia a iniciativa de preservar o verde. “Mas não é questão de 100 parques, de número, mas sim de envolver a população e integrar esses projetos com a arborização da Cidade.”

OS MAIORES

>>No programa “100 Parques para São Paulo”, não são apenas áreas pequenas que vão virar parque na Capital. Uma das propostas da Secretaria de Verde e Meio Ambiente é transformar em parques quatro terrenos vizinhos ao Trecho Sul do Rodoanel, que está em construção, nos bairros de Socorro e Parelheiros (Zona Sul).

>>Os Parques Natural Bororé, Natural Itaim, Jaceguava e Varginha, todos ao lado do Rodoanel, terão juntos, uma área de aproximadamente 21 milhões de metros quadrados, equivalente a 14 parques do tamanho do Ibirapuera.

>>Outro grande parque que está em obras na Zona Sul é o Linear Caulim, paralelo à Av. Teotônio Vilela, em Parelheiros. A área tem 3,2 milhões de metros quadrados.

>>Vinte e dois parques lineares (ao lado de córregos), previstos no Plano Diretor da Capital estão em obras ou são planejados pela Prefeitura, alguns em parceria com a Sabesp e com a Emae. A Sabesp vem trabalhando na Operação Córrego Limpo, para despoluir 42 cursos d’água na Capital.

 
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