Organizações se espalham pelo país, e coordenadores do Rio e de São Paulo advertem para envolvimento com política
Selma Schmidt
Rio, São Paulo, Teresópolis, Maringá. E ainda Vitória, Januária, Ilhabela, Ribeirão Bonito, Belém. Começam a se espalhar por cidades brasileiras movimentos da sociedade civil voltados para a melhoria da qualidade de vida, muitos inspirados no modelo implantado em Bogotá. São pelo menos nove já funcionando. Outros três estão em fase de estruturação em São Luís, Recife e Goiânia. Com as organizações se espalhando em ano de eleições municipais, representantes de entidades alertam para os perigos de os movimentos serem contaminados pela política:
— O dia em que um movimento apoiar um candidato ou um de seus membros sair candidato, será a morte desse movimento — advertiu Oded Grajew, da secretaria executiva do Nossa São Paulo, no primeiro Fórum Nossa São Paulo, realizado este mês.
Celina Carpi, diretora-executiva do Rio Como Vamos (RCV), concorda. Mais que isso: anuncia como um dos projetos do movimento este ano dialogar com todos os candidatos a prefeito:
— Queremos que os candidatos se comprometam, se eleitos, a apresentar um plano de governo baseado em metas. O RCV é apartidário e vai brigar para que esse compromisso seja assumido, seja qual for o vitorioso.
A secretária-executiva do Nossa Teresópolis, Rita Telles, é mais uma voz a enfatizar a necessidade de o movimento ser apartidário, além de independente e inter-religioso. A cidade, de 150 mil habitantes e belas paisagens, tem como um de seus grandes problemas o crescimento desordenado de construções, afirma Rita:
— Sonhamos com uma Teresópolis diferente.
Diante da dimensão dos problemas a serem enfrentados, os municípios começaram a discutir no fórum de São Paulo a criação de uma rede para a troca de experiências e informações — inicialmente nacional, mas que poderia, no futuro, ser estendida para a América Latina. Para Celina Carpi, a rede facilitaria o conhecimento e o entendimento do que acontece em outras cidades:
— Há movimentos que trabalham com indicadores, outros com pesquisas de percepção ou mobilização, mas o objetivo é sempre conhecer o meio em que se vive. Seja Cáli, na Colômbia, o Rio ou Ilhabela, na realidade há grande sinergia e semelhança entre essas cidades e suas realidades locais.
Entusiasmado com a rede de cidades, Oded Grajew acha que ela deve avançar pela América Latina:
— As soluções para os problemas acontecem quando a sociedade se mobiliza e a democracia participativa avança. A sociedade cobra, exige, participa, coopera e controla o poder público. Uma rede na América Latina permite troca de experiências e aprendizado.
Em São Paulo, segundo Grajew, houve mudanças positivas nos indicadores de saúde, de educação e na taxa de homicídios. Por outro lado, têm piorado os indicadores ambientais e de mobilidade:
— São Paulo pode estar perto de um colapso, por falta de planejamento, de visão do futuro.
O Nossa Ilha Mais Bela é mais um movimento surgido num município paulista:
— É necessário juntar os cidadãos para que eles exerçam o peso de sua união — observa Georges Henry Grego, um dos dirigentes do movimento.
Já Lizete Berilo, da Amigos Associados de Ribeirão Bonito (Amarribo), do interior de São Paulo, lembra que a entidade tem como meta o combate à corrupção:
— Fomos os primeiros a conseguir a cassação de um prefeito, em 2002.
Inspirada na Amarribo, a Associação dos Amigos de Januária (Minas Gerais) tem também como foco a corrupção. Fábio Oliva, um de seus dirigentes, conta que a organização foi responsável por denúncias que derrubaram cinco prefeitos:
— A corrupção nos ocupa 24 horas por dia.
A corrupção é ainda o principal enfoque da Transparência Capixaba, de Vitória, no Espírito Santo:
— É preciso integrar os órgãos de combate à corrupção, haver uma política de transparência pública e a ampliação dos mecanismos sociais de controle — diz Eduardo Simões, da direção do movimento.
Para movimentos em formação, o médico Daniel Becker, que dirige o escritório do Synergos no Brasil, informa que o instituto está desenvolvendo uma metodologia com o objetivo de incluir representantes de comunidades carentes, desde o início, nas discussões.
— É importante promover a inclusão. Os setores populares devem apresentar propostas e acompanhar o desenvolvimento de ações, para que as mudanças que venham a ocorrer atendam às suas necessidades — diz Daniel Becker, um dos coordenadores do RCV.
No Nordeste, São Luís e Recife estão articulando a criação de movimentos. Para o presidente do Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão, Ted Lago, as redes possibilitam ganhar tempo:
— Aprende-se com os projetos tentados que deram e não deram certo — afirma ele. — Estamos num bom momento, um ano eleitoral. É um momento para fazermos os candidatos assumirem compromissos e lembrá-los de que serão cobrados, de maneira técnica e transparente, sobre o que prometerem.
Outra defensora da rede, Suzana Leal, do Instituto Ação Empresarial pela Cidadania, de Pernambuco, está preocupada com o fato de Recife estar despontando no mapa da violência:
— Vivemos um clima de guerra. O momento é de se mobilizar para começar a acompanhar indicadores de qualidade de vida.
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