Fonte: O Estado de S.Paulo
Levantamento de secretaria aponta que 60% dos colégios, que abrigam 500 mil alunos, estão em áreas de risco.
Maria Rehder e Carina Flosi, JORNAL DA TARDE
De cada dez escolas municipais de ensino fundamental e médio de São Paulo, seis estão em áreas violentas (309 dos 493 colégios). É o que mostra um levantamento feito pela Prefeitura, em parceria com a Secretaria da Segurança Pública, para determinar quantas escolas precisariam receber segurança particular. A reportagem teve acesso à lista das escolas de risco, onde estudam mais de 500 mil alunos, por região da capital. São Mateus, na zona leste, aparece no topo do ranking: 98% dos colégios municipais (40 de 41) terão, até o fim de julho, vigilância privada.
Guaianases, na mesma região, é a segunda colocada, seguida de Capela do Socorro, na zona sul. Nenhuma escola da região central aparece na lista. O chamado Programa de Proteção Escolar foi anunciado como uma medida de emergência pelo secretário da Educação, Alexandre Schneider,
no ano passado, após uma série de reportagens publicadas pelo JT sobre furtos de computadores em escolas e violência.
A Prefeitura investirá R$ 82,5 milhões por ano nesse projeto, que vai oferecer vigilância 24 horas com seguranças desarmados, câmeras, motos e radiocomunicadores. As escolas que serão beneficiadas já foram alvo de ataques (roubos, furtos ou brigas) ou têm o entorno comprometido por freqüentes registros de crime.
O prazo para o início desse programa de segurança era até o fim do ano passado, mas foi prorrogado para fevereiro. A Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Educação informou que instalará este mês câmeras nas 309 escolas que serão contempladas com esse programa. A pasta pretende ampliá-lo, mas o prazo não foi divulgado. Ainda de acordo com a Secretaria, o Programa de Proteção Escolar também já é realidade nos Centros Educacionais Unificados (CEUs). Há Emefs em que os serviços de vigilantes terceirizados já estão sendo prestados, mas esse número não foi divulgado.
Para fazer a seleção, além de levar em conta as escolas localizadas em bairros com alto índice de vulnerabilidade, a secretaria contou com um levantamento de ocorrências feito pela Guarda Civil Metropolitana (GCM). O estudo mapeou índices de tráfico de drogas, homicídio, lesão corporal, furto e roubo. De acordo com o estudo, das 309 escolas da lista, 192 foram destacadas pelo índice de vulnerabilidade. As outras 117 foram indicadas pelas Diretorias de Ensino, por causa do elevado número de furtos e roubos nas escolas.
SEM VANDALISMO
Segundo o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP) Renato Alves, as regiões consideradas mais violentas realmente concentram os maiores índices de criminalidade. "Mas não necessariamente a escola localizada nessas regiões será mais vulnerável à violência. Isso depende muito da relação do colégio com toda a comunidade."
Ele cita a Emef Presidente Campos Salles, de Heliópolis, na zona sul, como exemplo positivo. "Há anos, ali não tem depredação, por causa da boa relação com a comunidade." Mesmo sem ocorrências de furtos ou crimes, esse estabelecimento está na lista de quem vai receber a vigilância privada.
Ainda segundo o pesquisador, a explicação para a ausência de escolas do centro na lista é simples: a região tem mais policiamento. "É onde circula mais dinheiro. Por isso, no horário comercial há mais policiais nessa região e menos nos bairros. E o número de escolas também é
menor."
A professora da pós-graduação da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Neide Noffs observa que, além de adotar câmeras e vigilância privada, a Prefeitura deveria cuidar de fato dos professores que atuam nas escolas em áreas mais violentas. "Quando sofrem ou ouvem falar de violência, eles acabam assumindo o medo de dar aulas nesses lugares da periferia."
Neide ressalta que de nada adianta um vigilante no entorno do prédio, se o professor não sentir que está em segurança. "Era preciso uma vigilância que acompanhasse o professor até o ponto mais seguro, principalmente os que dão aulas à noite. Na PUC, organizamos grupos de alunos que vão da faculdade até o metrô à noite. A Prefeitura poderia organizar algo desse tipo."
O presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), Claudio Fonseca, é contra o novo pacote de segurança da Prefeitura. "O ideal era abrir concursos para vagas de vigilantes nas escolas, em vez de pegar gente de fora." O Sindicato dos Guardas Civis Metropolitanos (SindiGuardas) também não gostou. Para Carlos Augusto Silva, vice-presidente da entidade, a contratação de segurança privada trará maior remanejamento dos guardas para a fiscalização de camelôs e irregularidades no centro.
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