Parelheiros: orçamento maior que regiões nobres de São Paulo e os piores indicadores do município

 

Daniella de Andrade Gomes**

Escondido no extremo sul da metrópole paulistana, o distrito de Parelheiros conserva o maior remanescente de Mata Atlântica, cerca de 350 km², que ainda sobrevive na maior cidade do país, e é responsável pela manutenção das cabeceiras dos rios que mantêm as represas Billings e Guarapiranga, garantindo 30% do abastecimento de água no município de São Paulo.

A área é marcada por contrastes. Tribos indígenas, colônias alemãs, japonesas e milhares de famílias de média e baixa renda, que povoaram o local de maneira desordenada, convivem em diferentes nichos. Algumas em situações precárias. Em áreas de mananciais e loteamentos irregulares, sem água encanada, tratamento de esgoto e coleta de lixo, e outras em chácaras em sítios com saneamento básico e lazer garantido no Clube de Campo ou Golf Clube.

Maria Lúcia Cirillo, presidente da Associação Comunitária de Engenheiro Marsilac, distrito vizinho a Parelheiros e administrado pela mesma subprefeitura, diz que ambos carecem de infra-estrutura básica, como hospitais, agência de correios e conservação das vias públicas. “As lideranças comunitárias estão cada vez mais desacreditadas. O subprefeito, Walter Tesch, só nos procura quando quer validar os seus projetos de interesse político e nós conseguimos o que é do nosso direito, através de ações civis no Ministério Público”, afirma.

Das 31 subprefeituras da cidade de São Paulo, Parelheiros, ocupa a 6º posição no ranking do orçamento per capta destinado às subprefeituras paulistanas. Em 2006 a subprefeitura dessa região recebeu 13 milhões de reais, de acordo com os dados da Sempla – Secretaria Municipal de Planejamento. À frente das subprefeituras da Lapa, Vila Mariana e Butantã, regiões que possuem os melhores indicadores sociais.

A boa posição no ranking orçamentário não se estende aos indicadores da saúde, cultura, esporte, violência e mortes no trânsito. De acordo com os dados socioeconômicos disponíveis no Observatório Cidadão Nossa São Paulo, o número de leitos hospitalares públicos e privados disponíveis por cem mil habitantes em Parelheiros é zero. Os indicadores culturais que mensuram o número de bibliotecas, teatros e centros culturais e também aqueles relacionados à infra-estrutura esportiva, como unidades e equipamentos de esporte também são zero.
“O hospital mais próximo fica no bairro de Grajaú, a 30 Km de Parelheiros. Temos em Marsilac apenas uma ambulância que foi conseguida com ações civis e a ajuda de procuradores do Ministério Público”, reclama Maria Lúcia.

Outro dado que chama a atenção é o alto número de mortes causadas no trânsito em uma região que conserva características rurais e onde a maior parte da população é de baixa renda, usuária de transporte público e não possuidora de automóveis. Parelheiros, com cerca de 139 mil habitantes, tem duas vezes mais mortes em acidentes de trânsito que Pinheiros com 245 mil, conforme os dados da Seade – Sistema Estadual de Análise de Dados.
Maria Cirillo diz que os acidentes acontecem porque a área é recortada por estradas e avenidas sem sinalização, pavimentação e acostamento. “Já pedimos a sinalização das vias e a única coisa que fizeram até agora foi uma ciclovia”.

A assessoria de imprensa da Subprefeitura questiona os dados do Movimento Nossa São Paulo. “Estamos cansados das informações que essa organização divulga, o trabalho deles só se presta para criticar sem conhecer a nossa realidade”, reclama. A assessoria de imprensa não soube explicar a relação entre os baixos indicadores sociais e o alto orçamento. Mesmo sendo os dados originários de fontes públicas, diz que não são reais.

“O trabalho do Movimento incomoda muita gente do setor público porque tornamos transparente e acessível à população os resultados da administração das subprefeituras. E nem sempre o saldo é positivo, comprometendo assim a imagem dos políticos”, afirma Maurício Broinizi coordenador-executivo do Movimento Nossa São Paulo.

A mais prejudicada é a população de baixa renda que não tem, em grande parte, acesso a Internet. Por isso o Movimento Nossa São Paulo mobiliza grupos de trabalho que vão até as áreas periféricas para mostrar os indicadores dessas regiões. “Não temos papel de fiscalizar e sim de mostrar às pessoas o que é público, mas nem sempre acessível. O objetivo desse movimento é resgatar a democracia participativa para que a população discuta projetos, orçamentos e metas de interesse coletivo com o seu representante local”, explica Maurício.
Daniella de Andrade Gomes é estudante de jornalismo e escreveu essa matéria para o projeto Repórter do Futuro, realizado pela Oboré.

 

 

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