Graziela Sirtoli**
O Brasil é o país com as taxas de juros mais altas do mundo, de acordo com estudo feito pela UpTrend Consultoria Econômica, que levantou as taxas praticadas em 40 países. Os juros reais brasileiros, considerando a atual Selic de 11,25%, estão hoje em 6,73% anuais. Estes juros extorsivos paralisam a economia e estimulam que se organize por toda parte do Brasil formas alternativas das pessoas protegerem as suas poupanças e financiarem as suas atividades.
De acordo com Ladslau Dowbor, professor de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, nas áreas de economia e administração, e consultor em agências das Nações Unidas, uma das saídas encontradas pelos brasileiros para melhorar de vida sem depender de ações governamentais, de orçamento público e das prioridades de partidos políticos foi a formação de cooperativas de crédito.
Um dos exemplos dessas iniciativas acontece na periferia de Fortaleza-CE, onde foi criado, em 1997, o Banco Palmas, que é uma prática de socioeconomia solidária da Associação de Moradores do Conjunto Palmeira, um bairro popular, com 32 mil moradores. O Banco Palmas desenvolveu um sistema econômico em sua comunidade por meio de uma linha de microcrédito para produtores e consumidores, além de um cartão de crédito e moeda própria para os moradores usarem como troca dentro do conjunto.
No site da instituição, é possível conhecer mais sobre suas atividades, como por exemplo as feiras e lojas solidárias, que promovem geração de emprego e renda para as pessoas mais carentes.
Outra iniciativa importante é o programa de Desenvolvimento Regional Sustentável, criado pelo Banco do Brasil, para ajudar no desenvolvimento das áreas onde o banco está presente. Por meio de acesso ao crédito e incentivo ao cooperativismo, ests ação é um dos exemplos do que pode ser feito em comunidades carentes onde recursos governamentais passam longe. Somente no estado de São Paulo, essa ação já contribuiu com 6.886 famílias, por meio de empréstimos que já totalizaram R$ 68,4 milhões.
“No Brasil, o cooperativismo mais forte é o agrícola, mas está crescendo muito o de crédito e também o de trabalho. O importante das cooperativas é que elas são formadas por pessoas físicas e não visam o lucro, e sim uma mudança na qualidade de vida da sociedade em que está presente”, afirma Américo Utumi, que faz parte do Conselho Consultivo da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp).
Na cidade de São Paulo, as iniciativas que buscam ampliar as condições de desenvolvimento dos cidadãos acontecem por meio de ONGs e também de cooperativas ligadas a entidades de classe. A Magiscred, Cooperativa de Crédito dos Magistrados de São Paulo, que foi criada há 27 anos, possui hoje 1.600 cadastrados e até abril deste ano realizou um total de R$ 1,6 milhão em empréstimos para seus associados.
De acordo com Ladslau Dowbor, as cooperativas são essenciais, pois diminuem a interferência dos bancos na economia e fazem com que haja uma maior mobilização da sociedade em prol de suas próprias necessidades. “Essas ações, que criam condições da própria comunidade se desenvolver, acabariam com o triângulo formado por políticos corruptos, grandes empresas, e empreiteiras que somente ganham com a desarticulação popular e agem de acordo com seus interesses rápidos, sem visão a longo prazo para nossa sociedade” conclui Dowbor.
**Graziela Sirtoli é estudante de jornalismo e escreveu essa reportagem para o projeto Repórter do Futuro, realizado pela Oboré.