Mostras de vídeo, basquete de rua, apresentações, debates e oficinas envolvendo os quatro elementos do movimento – grafite, dança, MC e DJ – agitam a Vila Buarque. Noite de rappers mulheres é novidade.
O Espaço de Cultura e Mobilização Social da Ação Educativa promove, de 26 de julho a 1º de agosto, a 8ª Semana de Cultura Hip Hop. O evento, que já é uma tradição na cena hip hop paulistana, procura estimular o diálogo entre a militância e arte no movimento. A Semana realizará mostras de vídeo, basquete de rua, apresentações e oficinas envolvendo os quatro elementos do movimento – grafite, dança, MC e DJ, e debates, que neste ano terá o tema “Hip Hop: novos caminhos para educar”.
Antonio Eleilson Leite, coordenador do Espaço de Cultura e Mobilização Social da Ação Educativa, organização promotora do evento, conta que, no auge do movimento, nos anos 90, o hip hop invadiu as escolas. “Muitos professores passaram a utilizar letras de rap em suas aulas”. Ele conta que a relação entre educação e hip hop chegou ao ápice em 90, com o livro “Rap é educação”, uma coletânea de artigos organizada pela socióloga Eliane Nunes. Atualmente, Eleilson vê um cenário totalmente diferente. “O Hip hop ficou pop e suas bases sociais se desarticularam; a parceria com as escolas não é mais a mesma”. Ele afirma que esse foi o mote para o tema dos debates. A mesa “Hip hop é um caminho para educar?” terá a presença, entre outros, de Panikinho, pedagogo e rapper, e de Marisa Fortunato, superintendente pedagógica da Fundação Casa (ex-Febem) que buscarão explorar a evolução desta relação ao longo do tempo.
Apesar de considerar que o Hip hop se popularizou, Eleilson ressalta que a Semana não acompanhou – propositalmente – essa tendência. Ele explica que isso ocorre por que a intenção da Semana é outra. “A gente prioriza os debates, oficinas e, mais recentemente, o campeonato de basquete de rua. Nossa intenção é colaborar na articulação do movimento”. Além disso, as apresentações artísticas procuram dar visibilidade a grupos alternativos. “Só se apresentam grupos vinculados às posses e organizações de base e artistas que não tem oportunidade”. Ainda assim o número de participantes alcança 1,5 mil pessoas por Semana, e superou 3 mil pessoas em 2002.
“Noite das Mulheres” será a principal novidade
Entre as apresentações artísticas, o destaque será a penúltima noite do evento (dia 31). Na Ação Educativa, haverá o Projeto Hip Hop Mulher, um encontro de 13 mulheres rappers da Cultura Hip Hop do Estado, que lançará o CD Realidades, produzido pela rapper Atyeli Queen. Na mesma noite, a DJ espanhola Delise fará uma aula-espetáculo. Também haverá o Sarau do Rap, com o poeta Sérgio Vaz.
A grande novidade das oficinas fica por conta da de xilogravura, que ocorrerá no dia 29 de julho, na Biblioteca Monteiro Lobato (Vila Buarque. A proposta da grafiteira e artista plástica Laydie Negger é mesclar o rap com o cordel. Também haverá oficinas de MC, grafitti, dança, beatbox, DJ e produção musical.
Debate é o diferencial da Semana
Debates calorosos marcam o evento. Eleilson conta que, certa vez, o DJ KL JAY, dos Racionais MCs, defendia a formação artística. “Para ele não adiantava nada protesto sem musicalidade. Sendo dos Racionais, ele sabe bem o que está dizendo. Pessoas na platéia reagiram enquadrando o cara como vendido para o Mercado”, lembra Eleilson. Em 2003, houve um debate sobre rádios livres, quando um delegado da Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL debateu o tema ao lado de ativistas das ondas livres. “A discussão quase chegou às vias de fato”, recorda Eleilson. Os debates também já discutiram temas que atravessam o hip hop, mas não são normalmente discutidas, como profissionalização, geração de renda, homossexualismo, literatura e outras questões do dia-a-dia.
Serviço:
8ª Semana de Cultura Hip Hop
Data: de 26 a 1º de agosto
Locais: Ação Educativa, Rua General Jardim, 660; Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato, Rua General Jardim, 485; SESC Consolação, Rua Dr. Vila Nova, 245
Mais informações: http://nsae.acaoeducativa.org.br/portal/