Informações inéditas da polícia de SP mostram que periferia tem mais crimes contra a vida e áreas ricas, mais crimes contra o patrimônio
Jardim Herculano, Capão Redondo e Parque Santo Antônio formam "triângulo da morte’; zona oeste tem mais furto e roubo de veículos
ANDRÉ CARAMANTE
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Dados inéditos do setor de inteligência da polícia de São Paulo, obtidos pela Folha, revelam como se distribui, distrito a distrito, a criminalidade pela cidade de São Paulo.
Os números, do segundo trimestre deste ano, mostram que a violência se espalha pela cidade, mas segue lógica própria.
Os crimes contra vida (homicídios e estupro) atingem, principalmente, as regiões mais pobres. Os crimes contra o patrimônio (roubos, furtos e latrocínio) se concentram na região central e em bairros mais ricos.
No primeiro caso, destaca-se o chamado "triângulo da morte", formado pelas regiões dos distritos policiais de Jardim Herculano, Capão Redondo e Parque Santo Antônio, onde 31,5% dos domicílios têm renda de até três salários mínimos.
Na área formada por essas três delegacias, que inclui bairros como Jardim Ângela e Jardim São Luis, ocorreram 44 homicídios nos meses de abril, maio e junho -14,7 por mês em média-, ou seja, 14,5% dos casos da cidade no período (303).
Crimes patrimoniais
Dos chamados crimes contra o patrimônio, o furto de veículos é uma das principais referências para a lógica da violência na cidade.
A análise dos números da polícia permite dizer que esse tipo de crime é mais freqüente na área formada por bairros como Perdizes, Lapa e Pinheiros, todos na zona oeste, onde 52,3% das residências têm renda superior a 20 salários mínimos.
Essa mesma área da zona oeste, aliada ao centro e aos Jardins, é responsável ainda pelos mais altos índices de outros furtos (celulares, carteiras, arrombamentos em residências etc.) e roubos (praticados sob grave ameaça, com a utilização de arma, por exemplo). Na classificação da polícia, os Jardins estão na área central.
Os números do Mapa da Violência fazem parte da base de dados da CAP (Coordenadoria de Análise e Planejamento), órgão da Secretaria da Segurança Pública que estuda a criminalidade a fim de adequar a utilização das forças de segurança no policiamento da cidade.
Desde 2002, os governos Geraldo Alckmin (PSDB), Cláudio Lembo (PFL, hoje DEM) e José Serra (PSDB) divulgam só os dados macros da cidade, sem dividi-los por distritos policiais ou seccionais, como a Folha os apresenta nesta edição.
Ao longo desse período, a reportagem pediu várias vezes essas informações à secretaria por considerá-las de interesse público, mas não as conseguiu.
Os dados que a Folha revela não incluem crimes registrados em delegacias especializadas -como o Deic (roubos) e o Denarc (drogas)-, o que pode causar diferenças em relação às informações gerais do site da secretaria (www.ssp.sp.gov.br/estatisticas).
Entre 2004 e 2007, o governo paulista chegou a divulgar estatísticas criminais erradas. Só em crimes patrimoniais como seqüestro, roubo a banco, de veículos e de carga, mais de 16 mil ocorrências ficaram de fora da contagem oficial.
Outros crimes
Os números apontam ainda as regiões com maior incidência de roubo a banco, roubo de carga, estupro e tráfico de drogas. Roubos a banco estão concentrados em uma área da zona sul (Santo Amaro, Ibirapuera, Vila Clementino, Campo Limpo e Cidade Ademar) e em um trecho da zona oeste (Perdizes, Pinheiros e Itaim Bibi). Juntos, os bairros têm 50% dos roubos a banco entre abril e junho.
Os de carga acontecem predominantemente nas áreas próximas às rodovias Régis Bittencourt, Presidente Dutra e Fernão Dias, além da área central, que inclui as regiões de comércio popular do Brás e ruas 25 de Março e Santa Ifigênia.
Os estupros ocorrem principalmente nos extremos da cidade. O tráfico, na zona norte.
Veja os números por tipo de crime
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