A 60 dias da eleição, programa prevê 19 obras anticongestionamento; previsão de lançamento é em 2010
Jones Rossi, JORNAL DA TARDE
A 60 dias da eleição municipal, Prefeitura e governo do Estado fecharam uma parceria para tirar do papel uma série de projetos para o trânsito de São Paulo, alguns de oito anos atrás, e lançá-los com o objetivo de tirar os carros do centro de São Paulo. Serão destinados R$ 4 bilhões para as obras, que estão previstas para começar em 2009 e terminar em 2010. O anúncio pode favorecer os candidatos à Prefeitura pelo PSDB e DEM – Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab. O edital com as licitações sai em 60 dias.
Sob o nome de Programa de Desenvolvimento do Sistema Viário Estratégico Metropolitano de São Paulo, a proposta foi desmembrada em dois grandes pacotes de 19 obras. O primeiro, com 11 intervenções, prevê alternativas para a Marginal do Tietê. A principal medida é a criação de uma avenida paralela à Marginal com 17,5 km de extensão, começando na Avenida do Anastácio, passando pela Cruzeiro do Sul, atravessando a Engenheiro Caetano Álvares e terminando na Avenida Nadir Figueiredo.
De acordo com o secretário-adjunto de Infra-Estrutura Urbana e Obras, Marcos Penido, a obra vai permitir melhorar o fluxo de veículos sobretudo na zona norte da capital. Diretor de Engenharia da Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), Paulo Souza disse que a divisão do dinheiro a ser investido pela Prefeitura e pelo Estado ainda não está definida.
TÚNEIS E PASSAGENS
A Avenida Cruzeiro do Sul receberá uma ligação subterrânea até a Engenheiro Caetano Álvares. Serão dois túneis de 400 metros. "A intenção é de que a Cruzeiro do Sul seja tão importante quanto a Avenida dos Bandeirantes", disse Penido. Do outro lado da Marginal, a Avenida Tiradentes ganhará uma ligação de 8,5 km até a Aricanduva, com um viaduto sobre a Avenida Salim Farah Maluf (que deve ser transformada em uma via expressa), passando por trás do Estádio do Corinthians. O cruzamento da Tiradentes com a Ribeiro de Lima também terá uma passagem subterrânea. E um viaduto será construído na Aricanduva, sobre a Ragueb Choffi.
Outros dois túneis entre a Avenida Domingos de Morais e a Avenida Sena Madureira vão criar "um eixo de ligação alternativo à Avenida dos Bandeirantes", disse Penido. Os túneis somam 990 metros.
A última obra vai interligar a Raposo Tavares à Ponte Cidade Universitária pela Rua Alvarenga, que será transformada em expressa. Outra ponte, para absorver o tráfego, será construída ao lado da Cidade Universitária.
Investimento permitiria fazer 2 Linhas 4 do Metrô
William Glauber
Especialistas em Engenharia de Tráfego e Trânsito afirmam que novas obras viárias terão efeito na mobilidade em São Paulo caso se priorize o transporte coletivo. Os projetos das avenidas a serem abertas devem contemplar a construção de corredores de ônibus; do contrário, a cidade pára. Melhor mesmo, para o consultor Horácio Figueira, seria investir os R$ 4 bilhões no Metrô. "Daria para construir duas linhas de 12,5 quilômetros, como a Linha 4-Amarela. Seriam transportadas por dia 2 milhões de pessoas."
Na avaliação de Figueira, a cidade já vive um "colapso urbano" e a construção de novas faixas de rolagem levaria a um colapso ambiental. "Fico revoltado ao ver dinheiro jogado no lixo por não se investir pesado em ônibus. Esse projeto incentiva o automóvel e o congestionamento em novas vias", afirma. As idéias seriam bem-vindas, diz Figueira, se a cidade tivesse 500 quilômetros de corredores, com velocidade, oferta e conforto.
O consultor teme que as novas vias se tornem "inviáveis" como ocorreu com grandes obras. "Temos os exemplos dos túneis da Rebouças e Jardins e do estacionamento elevado que virou a Ponte Estaiada no horário de pico. Qualquer obra só deve ser executada se for para garantir fluidez nas horas de movimento."
Pouco menos ácido, o consultor de Engenharia Urbana Luiz Celio Bottura afirma que a construção de novas vias é fundamental, mas o projeto, se bem elaborado, deve prever corredores. "A cidade precisa de uma via paralela às Marginais do Tietê e do Pinheiros. São necessárias. Tem, no entanto, de colocar faixas exclusivas para os ônibus e fazer uma melhor reocupação do espaço urbano", diz Bottura.
O consultor ressalta que seria importante a construção de um sistema partindo da zona leste por vias como Anhaia Melo, Paes de Barros, Viaduto Bresser, Rua João Teodoro (região da Avenida do Estado) seguindo em paralelo ao trem até a zona oeste. "Ao fechar esse contorno leste-oeste, poderíamos até substituir o Minhocão."
Bottura também elogia a criação de uma faixa exclusiva para caminhões à esquerda da Avenida dos Bandeirantes. "Inclusive, essa proposta é minha e a apresentei em 2001", lembra.
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