“Morador sai menos de casa para se divertir” – Folha de S.Paulo

 

De 1997 a 2007, o número de viagens para lazer na Grande São Paulo caiu 28,03%, de acordo com pesquisa do Metrô

Segundo especialista, as pessoas deixaram de freqüentar atividades culturais externas para ter diversão dentro de casa

DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A gerente de negócios Isabel Cristina Peixe de Mendonça, 35, tem muitos amigos, mas quase não freqüenta mais a casa deles. Ela também reduziu muito as idas a shows e teatros.

Não é que ela não se divirta mais. Agora, ela tenta limitar suas saídas a bares perto de casa, na Parada Inglesa (zona norte de São Paulo), ou do seu trabalho, que fica na zona sul.

"Se eu tenho de pegar trânsito, penso duas vezes antes de sair. Só saio se for perto de casa ou após o serviço."

Isabel está longe de ser a exceção. Ao contrário, ela é um exemplo de uma mudança de comportamento em curso na região metropolitana de São Paulo, identificada pela pesquisa "OD (Origem/Destino)", do Metrô: o morador se desloca menos para atividades de lazer.

De 1997 a 2007, o número de viagens para lazer na Grande São Paulo caiu 28,03%. Todos os outros motivos (trabalho, educação, saúde) tiveram aumento. Isso significa que o morador se diverte menos? Não necessariamente, mas não há uma única explicação.

"Para mim é surpreendente", disse a especialista em políticas públicas de cultura Isaura Botelho, que coordenou no Centro de Estudos da Metrópole uma pesquisa sobre práticas culturais do paulistano concluída em 2003.

Botelho diz que há um fenômeno em curso em todo o mundo: as pessoas deixam de freqüentar atividades culturais externas para ter lazer dentro de casa, com filmes, música etc. "Hoje em dia nós temos um superequipamento doméstico que nos dá lazer com conforto em casa mesmo."
Mesmo assim, segundo ela, a pesquisa de 2003 apontava que os moradores que mais optavam por atividades de cultura em casa eram os mesmos que mais saíam de casa. Ou seja, concluiu-se, na ocasião, que as atividades em domicílio eram complementares às ações externas (cinema, teatro, shows, bares, parques etc.).
A pesquisa do Metrô, entretanto, mostra outra realidade. "Não conheço os dados [da pesquisa do Metrô], mas só posso concluir que as pessoas estão ficando mais perto de casa ou mesmo dentro de casa", afirmou a especialista.

Esse fenômeno do "lazer caseiro" é uma das explicações possíveis para a queda no número de viagens para lazer, mas os técnicos do Metrô trabalham também com outras duas hipóteses: 1) a população se ocupa mais com trabalho e estudo e menos com outras atividades; e 2) a ampliação do caos no trânsito tem feito com que as pessoas optem por não sair de casa ou ir para algum lugar bem perto para não enfrentar congestionamentos.

"A piora das condições do trânsito reduz as viagens para lazer. Eu mesmo pago para não sair de casa. Não tem mistério: em vez de sair para ver um filme, as pessoas pegam um filme; em vez de sair para comer uma pizza, as pessoas pedem uma pizza", afirmou Cláudio Barbieri, engenheiro de transportes e professor do Departamento de Engenharia da USP. (ALENCAR IZIDORO, EVANDRO SPINELLI, RICARDO SANGIOVANNI E BRUNA SANIELE)

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