Foto: Tatiana Cardeal
A lógica é complexa, envolve comunidades tradicionais, pessoas que saem do sul e sudeste para ganhar a vida por lá e toda uma cadeia que compra, vende, financia e fatura com a exploração e com os produtos gerados.
Naná Prado, do Mercado Ético
Para pensar em conexões sustentáveis entre São Paulo e Amazônia é preciso avaliar, primeiramente, a vida levada na metrópole e os impactos que esses atos de consumo têm na Amazônia. Essa é a visão de Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA) e do Fórum Amazônia Sustentável, apresentada durante o seminário Conexões Sustentáveis, realizado ontem (14/10).
Madeira, carne, soja. Esses são alguns dos ‘produtos’ trazidos da Amazônia para São Paulo e que surgem, na maioria das vezes, do desmatamento ilegal. A lógica é complexa, envolve comunidades que habitam e sobrevivem da região há muitos anos, pessoas que saem do sul e sudeste para ganhar a vida por lá e toda uma cadeia que compra, vende, financia e fatura com a exploração e com os produtos gerados.
Segundo Adriana, é preciso compreender a dinâmica do desmatamento e a engrenagem que existe em torno dele, que se auto-sustenta. “O ciclo passa pela grilagem de terras, exploração madeireira e pela agropecuária. É uma verdadeira engrenagem na qual, muitas vezes, a infra-estrutura dá o apoio necessário”, afirma ela.
Adriana Ramos questiona: até que ponto a gente precisa realmente explorar ainda mais a Amazônia? Segundo ela, “há muitas áreas que já foram desmatadas em outras regiões e que, talvez, supririam grande parte de nossas necessidades”. Nessa linha, a senadora Marina Silva, em sua fala durante a manhã, destacou que se houvesse sido feito um planejamento estratégico anos atrás, talvez hoje não estaríamos com apenas 7% da cobertura original da Mata Atlântica.
Relacionando, portanto, a fala das duas palestrantes (Marina Silva e Adriana Ramos), é possível notar a importância de um planejamento estratégico adequado para a Amazônia, para que não aconteça o mesmo que estamos vendo na Mata Atlântica.
Desafios para a sustentabilidade
Para Adriana, é possível destacar alguns dos principais dilemas da Amazônia, tais como: a ilegalidade; a competição, que se torna insustentável; a ausência de planejamento estratégico na lógica do que a Amazônia tem para nos oferecer e não o que queremos, a qualquer, custo, tirar dela; o greenwashing; a infra-estrutura e a tecnologia não adaptadas (baseadas no sul-sudeste e para atender essas regiões e não para compreender as necessidades da Amazônia).
Além disso, a especialista do ISA cita como desafios socioambientais os direitos territoriais das comunidades locais e a inexistência de serviços básicos, tais como educação, saúde e segurança.
Para Beto Veríssimo, do Imazon e do Fórum Amazônia Sustentável, o desmatamento da Amazônia representa algo em torno de 8% do PIB brasileiro, isso gera mais de 60% das emissões de gases de efeito estufa. “Se olharmos os indicadores econômicos veremos que este sistema está reprovado, precisamos de outro modelo de desenvolvimento para a Amazônia”. Beto Veríssimo afirma que um orçamento a altura das necessidades da Amazônia tem que girar na casa dos trilhões por ano e não de bilhões.
Vários pontos para uma real conexão sustentável entre São Paulo e Amazônia são consenso entre os palestrantes Adriana Ramos e Beto Veríssimo. Eles acreditam na importância de uma negociação com todos os segmentos que queiram um pacto pela sustentabilidade, com repartição de benefícios, democratização e limites. Além disso, mantêm a idéia da necessidade de um estado fortalecido, com escala para ação e com políticas públicas estrategicamente planejadas. A questão da transparência nas pesquisas e em contas públicas foi ponto em comum entre os participantes do debate.
*A cobertura do evento está sendo feita em colaboração pelo Movimento Nossa São Paulo, Mercado Ético e Envolverde