Iniciativas de dentro da escola, como infra-estrutura e professores, representam cerca de 30%, diz pesquisa
Simone Iwasso
O contexto familiar é responsável por 70% do desempenho escolar de um estudante, restando à escola e suas condições interferir, positiva ou negativamente, nos 30% restantes. A conclusão surgiu de uma revisão da literatura sobre desempenho escolar existente no Brasil realizada pela Fundação Itaú Social. O objetivo do trabalho, que será divulgado hoje em seminário promovido pela instituição, foi orientar gestores a definir políticas públicas na área, tendo como base as evidências que aparecem nas pesquisas acadêmicas, esclarecendo resultados que, isolados, são muitas vezes conflitantes.
"Todas as pesquisas analisadas, nacionais e internacionais, mostram que a maior parte do desempenho escolar é explicada pelas características familiares do aluno. A educação é realmente um bem transmitido de geração para geração, tanto a boa quanto a má educação", explica Fabiana de Felício, responsável pelo estudo no Itaú Social e consultora do Ministério da Educação (MEC). "São fatores principais o nível de escolaridade do pai e da mãe, a renda familiar, o tipo de moradia e o acesso a bens culturais. Todo o resto acaba sendo derivado disso."
Segundo a pesquisadora, os levantamentos – feitos tendo como parâmetro os resultados em avaliações nacionais do MEC e os índices de aprovação e evasão – mostram que o aluno já chega à escola com diferenças que fazem com que ele tenha resultados maiores ou menores. Ou seja, sua condição e estrutura familiar já o colocam em vantagem ou desvantagem desde o início do ensino fundamental. No entanto, o fato de ter cursado a educação infantil já reduz ano a ano essas diferenças – dado corrobora a opinião de uma série de organizações e educadores que têm, nos últimos anos, brigado pela valorização do ensino infantil e pela abertura de mais vagas na escola para essa faixa etária, considerada não obrigatória por lei.
"É muito difícil interferir nesses 70%, que são a base, a família e os benefícios que a renda permite. Algumas secretarias estão tentando fazer isso, visitando as casas, oferecendo ajuda, mas ainda é muito complexo. Cabe ao gestor trabalhar para melhorar esses 30% da escola", diz a pesquisadora. "Até por isso que a maior parte dos trabalhos investiga as variáveis da escola", explica.
Quando se chega nesse patamar, o trabalho traz algumas luzes – e polêmicas. Enquanto a educação infantil, a presença de professores com curso superior e boa infra-estrutura da escola aparecem como elementos com impactos positivos e significativos, o tamanho das turmas, o uso do computador pelo professor e o número de horas-aula despontam como fatores com impactos relativamente pequenos.
POLÊMICA
Outra discussão gira em torno do real impacto dos programas de formação continuada do professor. O estudo mostra que 88% das pesquisas comprovam o impacto positivo do professor com curso superior. No entanto, os cursos de atualização e formação oferecidos pelas secretarias não têm impacto positivo significativo algum – em alguns casos, chegam a ter influência negativa.
Para o economista da Universidade de São Paulo e do Ibmec São Paulo, Naércio Menezes, o problema está na qualidade e no tipo dos cursos oferecidos. Ele foi um dos primeiros a mostrar, em trabalho elaborado há dois anos, que professores que passavam pelos cursos não conseguiam melhorar o desempenho de seus alunos.
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