“Saúde preocupa 44% dos paulistanos” – O Estado de S.Paulo


Em pesquisa de instituto britânico, moradores da capital valorizam variedade de lojas e oportunidade de trabalho

Bruno Paes Manso

São Paulo pode ter grandes defeitos, mas pelo menos mantém acesa a esperança daqueles que querem prosperar e comprar. São eles que apontaram a oportunidade de emprego e a variedade de lojas como a principal qualidade de São Paulo.

Problemão mesmo é ficar doente por aqui. A baixa eficiência dos serviços de saúde é o que mais preocupa 44% da população da cidade. Esses são alguns dos resultados da pesquisa conduzida pelo instituto Ipsos Mori para saber como o paulistano enxerga a cidade. Os resultados serão apresentados na quinta e sexta-feira, na conferência internacional Urban Age.

Algumas respostas surpreenderam os entrevistadores, principalmente quando comparadas à mesma pesquisa feita em Londres. Os resultados também chamam a atenção quando as respostas dadas pela população de São Paulo são comparadas às de urbanistas e especialistas locais.

O custo de vida na cidade, por exemplo, não é apontado como uma questão preocupante. Enquanto somente 16% dos paulistanos disseram que essa era a principal preocupação deles em São Paulo, na capital da Inglaterra esse índice é de 53%. Da mesma forma, a preocupação com os custos da habitação na cidade é bem menor do que em Londres. “Como um europeu, acho isso uma ironia. Afinal, a Inglaterra é um país rico. Já os habitantes de São Paulo estão em um país em desenvolvimento”, diz Ben Page, diretor do Instituto Ipsos Mori em Londres.

A preocupação com o crime em São Paulo (44%), da mesma maneira, é quase a mesma da população de Londres (43%). Por outro lado, enquanto a população de Londres se orgulha do perfil cosmopolita da sua capital, com 32% dos entrevistados apontando a diversidade da população como um dos aspectos mais positivos da cidade, a diversidade da população de São Paulo, também formada por migrantes, é citada somente por 6% da população.

“Outro fato curioso para mim é que os serviços de saúde são apontados como a principal preocupação das pessoas. Isso é incomum mesmo em países em desenvolvimento, como a China, onde a população reclama da falta de empregos”, afirma Page.

Já o diretor de pesquisa e opinião da Ipsos Mori em São Paulo, Paulo Cidade, chama a atenção para o fato de que a escolha das principais qualidades pelos paulistas não revelam uma cidade igualitária. “A pessoa pode apontar a variedade de empregos e de lojas como a principal qualidade mesmo sem poder usufruir desses benefícios. Estão à disposição e são visíveis, mas nem todos podem usufruir das benesses”, diz.

Cidade também lembra de questões importantes que costumam ficar de fora das respostas, como saneamento básico e coleta de lixo. O meio ambiente, por sinal, não chega a ser um assunto prioritário para os paulistanos. Apenas 12% acreditam que políticas nessa área ajudariam a melhorar a qualidade de vida na cidade, enquanto 23% dos moradores de Londres têm essa opinião.

ESPECIALISTAS

Diferenças significativas aparecem também quando a opinião de urbanistas e especialistas é comparada à da população de São Paulo. Enquanto os primeiros apontam as questões relacionadas ao transporte e à moradia como os maiores desafios da cidade, para a população os serviços de saúde e a criminalidade são os principais nós a serem desatados.

A arquiteta Regina Meyer, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, enxerga a diferença como natural. A questão dos transportes, ela explica, perpassa outros assuntos importantes da cidade, fato que nem sempre é percebido pela população. “Transporte eficiente pode melhorar o ar da cidade e diminuir problemas de asma, por exemplo. Da mesma maneira, aumentam as opções de lazer, emprego, a integração dos moradores, só para citar alguns aspectos.”

Compartilhe este artigo