Desperdício doméstico soma 26,3 milhões de toneladas ao ano
Um amassadinho na fruta e ela vai para o lixo. O mesmo destino terá aquele iogurte que você adora, mas ficou esquecido no fundo da geladeira até estragar. Apesar dessa perda, as compras da semana ainda extrapolam o previsto na lista de supermercado feita em casa. Com desperdícios freqüentes e falta de planejamento, de 20% a 30% dos alimentos adquiridos pelas famílias brasileiras acabam na lixeira, de acordo com o Instituto Akatu, que promove o consumo consciente.
Segundo a entidade, 50% do peso do lixo doméstico de São Paulo é composto de comida. Ou seja, sobram 26,3 milhões de toneladas de alimentos no fim de um ano.
Nas feiras livres do Estado, o descarte de alimentos chega a mil toneladas diárias. Na feira da Rua General Carneiro, atrás do Mercado Municipal, logo cedo o morador de rua Isaías Souza, de 50 anos, recolhe aquilo que ainda está bom para o café da manhã. “Hoje comi três mangas. Aqui só passa fome quem quer. É triste ver tanta coisa boa jogada fora.”
O descarte de produtos alimentícios nos supermercados da cidade chega a 13 milhões de toneladas por ano. O volume também é grande na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), maior mercado da América Latina: 103 toneladas de alimentos são jogadas fora todos os dias. Isso representa 1% do que é comercializado. “Entre 30% e 50% desses produtos estão próprios para o consumo”, diz a gerente de Operações do Akatu, Heloisa Torres de Mello.
Parte desse excedente é doada pelos comerciantes para o banco de alimentos da Ceagesp. A companhia faz uma triagem e distribui, em média, 121 toneladas na capital por mês.
FAMINTOS
Os números do desperdício ficam mais preocupantes se comparados com a quantidade de famintos no Brasil.
“Jogam-se fora, todos os dias, 39 milhões de quilos de alimentos. Isso daria para suprir, diariamente, 19 milhões de pessoas”, afirma a nutricionista Patricia Giordano, do Programa Ajuda Alimentando. As causas dessa perda estão nos excedentes de produção, nos pacotes próximos da data de vencimento, e nas frutas e legumes com aparência ruim para comercialização, mas que poderiam ser consumidos.
Entre as razões para tanto desperdício de alimentos, Heloisa Mello aponta a falta de consciência das pessoas sobre os problemas derivados do consumo. “Junto com a comida, vão para o lixo água e energia gastos nessa cadeia produtiva.”
A maioria da população também não sabe como aproveitar de forma integral os alimentos, afirma a nutricionista Etelma Mendes Rosa, do Centro de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável da Secretaria Estadual da Agricultura. “Talos e cascas são pouco aproveitados. Boa parte dos alimentos é processada e transportada inadequadamente.”
LEGISLAÇÃO
Produtos de qualidade que hoje vão para o lixo poderiam ser doados, mas uma lei desestimula essa prática. Muitos comerciantes e empresários preferem descartar os alimentos porque podem ser responsabilizados civil e criminalmente se a comida causar danos à saúde de quem a consumiu.
“Em parte isso dificulta as doações”, conta a coordenadora do programa Mesa Brasil do Sesc São Paulo, Luciana Gonçalves. Ela acredita que a lei deve ser revista, mas a responsabilidade de quem dá e de quem recebe não deve ser desconsiderada. “No caso da comida pronta, é difícil saber se o problema ocorreu antes da entrega ou no manuseio de quem foi beneficiado.”
O Projeto de Lei nº 4.747 pede alterações na responsabilização e criação de incentivos fiscais para quem doa comida. A proposta aguarda votação no Congresso desde 1998.
DINHEIRO
O desperdício de frutas e hortaliças custa caro para o País. No primeiro caso, o prejuízo é de US$ 2,2 bilhões por ano, em média. São 17,7 milhões de toneladas comercializadas, sendo 30% não consumidos.
A quantidade de hortaliças que vai para o lixo todos os anos (37 kg/ habitante) é maior que o consumo (35 kg), segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Consumo planejado
Programe suas compras. Leve só o necessário e confira os prazos de validade
Deixe na parte da frente da geladeira os produtos que estão perto de vencer
Na compra, não amasse os alimentos
Se alguma fruta começa a estragar, tire apenas a parte ruim e aproveite o restante
Recicle comida. Faça bolinhos das sobras de arroz, verduras e carnes; e geléia de frutas azedas ou muito maduras
Aproveite talos, cascas e folhas. Eles rendem boas receitas e têm alto teor nutritivo
Guarde hortaliças inteiras, bem secas, em sacos e na parte baixa da geladeira
Mantenha as frutas maduras no refrigerador
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