“Veículos demais no caminho”- O Estado de S.Paulo

 

Apenas um carro parado por 15 minutos provoca 3,5 km de lentidão

Um carro quebrado aqui, outro abandonado e depenado ali. Os veículos também são descartados na cidade de São Paulo. Um estudo feito por empresas de seguros no Brasil aponta que todos os anos 1,5% da frota nacional vai para o ferro-velho – dois terços por acidentes com perda total e o restante por roubos sem recuperação. Em São Paulo, que tem uma frota registrada de 6,2 milhões de veículos, seriam cerca de 90 mil unidades ao ano destinadas a virar sucata ou abarrotar os pátios das polícias rodoviárias e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

Mas nem todos os veículos malconservados vão parar nos depósitos. Muitos continuam prejudicando o trânsito: a cada 15 minutos, um carro parado cria 3,5 quilômetros de congestionamento. A CET remove em média 323 deles das ruas da cidade por dia, em função de falhas mecânicas, pane elétrica, pneu furado.

Boa parte desses automóveis que atrapalham a vida dos paulistanos é velha, com mais de 15 anos, embora a frota do País seja considerada jovem, com média de 9 anos e 1 mês, semelhante à dos Estados Unidos. Esse número, porém, está longe de representar a realidade, na opinião do especialista em gestão automotiva Luiz Carlos Mello, ex-presidente da Ford Brasil. “O cálculo brasileiro é feito de dois extremos: carros muito velhos e outros muito novos”, explica. “A frota japonesa tem 11 anos, mas a maioria dos automóveis se situa ao redor dessa faixa.”

Metade dos veículos do Estado tem mais de 10 anos, segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran).

FISCALIZAÇÃO

Os carros velhos atrapalham o tráfego. “Eles não desenvolvem velocidade razoável e, quando quebram, causam ainda mais lentidão”, diz Mello.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Monitoramento e Controle Eletrônico do Trânsito (Abramcet), Silvio Médici, falta fiscalização para tirar esses carros de circulação. Médici diz que não há pátios para todos eles. Além das unidades registradas na cidade, de acordo com o especialista, existe uma “frota invisível”, não licenciada. “Esses veículos podem significar 30% do total. Não há para onde levá-los.”

Nesse cenário, o registro de 800 novos carros por dia na cidade ajuda a aumentar a média diária de 144 km congestionados no pico da tarde e os recordes batidos várias vezes este ano. A velocidade nos horários críticos não ultrapassa os 20 km/h. Há 1,86 habitante por veículo, próximo do índice da Cidade do México, onde a proporção é de 1,64.

Segundo o consultor Vitor Meizikas Filho, o mercado tornou-se mais acessível para as classes C e D. Uma pesquisa da agência de varejo automotivo MSantos mostrou que, de junho a agosto, 48,3% dos compradores em feirões da capital levaram para casa o seu primeiro zero quilômetro e 21%, o primeiro usado. Em 2007, as proporções eram de 43% e 8%, respectivamente. A maior parte deles ganha entre R$ 1.400 a R$ 2 mil e parcelou em 60 vezes. Os modelos populares representam 62% da frota.

PERIFERIA

O aumento do poder aquisitivo das classes mais baixas altera o ciclo do carro. Conforme se desvaloriza, ele vai dos bairros de melhor situação social em direção à periferia. A diferença é que, cada vez mais, o zero quilômetro chega ao subúrbio. “Ainda assim, o movimento será sempre do mais rico para o mais pobre”, diz Luiz Carlos Mello.

A vida útil de um carro é de 20 anos. “Mas atualmente são produzidos modelos para durar ainda mais”, lembra Vitor Meizikas. Eles rodam, em média, 13 mil km por ano. A manutenção custa cerca de R$ 900 anuais, menos da metade do que gasta um americano.

Os principais problemas apresentados pelos carros paulistanos concentram-se no sistema de transmissão e na suspensão. “O primeiro sofre com os engarrafamentos, pois o motorista precisa trocar de marcha muitas vezes no trânsito parado”, explica Meizikas. “O segundo tem a ver com a grande quantidade de buracos nas ruas.”

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