Giovana Girardi
O adiamento por três anos do cumprimento da resolução que reduziria o teor de enxofre no diesel a partir de 2009 pode ser responsável pela morte de pelo menos 25 mil pessoas a mais na região metropolitana de São Paulo até 2040. Os cálculos são de Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
O número leva em conta que caminhões fabricados nos próximos anos com motores ainda fora das especificações para receber um diesel mais limpo continuarão em circulação por uns 30 anos, emitindo em altas concentrações os poluentes que provocam doenças cardiovasculares, respiratórias e até mesmo câncer, do mesmo modo que o cigarro.
"Se dividíssemos a compensação econômica (do atraso da oferta do diesel limpo) pelo número de mortes a mais não dava nem para pagar o enterro", disse Saldiva.
O pesquisador apresentou o cálculo durante evento ontem na Faculdade de Economia e Administração da USP. A reunião buscou avaliar os impactos futuros do acordo feito entre Petrobrás, montadoras e Ministério Público Federal que prorrogou os prazos para a oferta de um diesel mais limpo ao País. Segundo Saldiva, das 110 mortes por causas naturais registradas por dia na região metropolitana, de 12 a 14 são conseqüência do diesel.
Ele lembra que esses números ficam ainda piores quando comparados com os benefícios já obtidos por causa do funcionamento do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve). "Ele evitou a morte de 1.500 pessoas por ano entre 1995 e 2005 na região metropolitana de SP. Foi super bem-sucedido. Agora terá uma falha grande."
Conforme resolução de 2002 do Conselho Nacional de Meio Ambiente, a partir de janeiro do ano que vem o diesel oferecido no Brasil deveria ser o S-50, com 50 partes de enxofre por milhão de partículas (ppm). Atualmente o combustível vendido nas regiões metropolitanas contém 500 ppm e o do interior, 2.000 ppm. Pelo acordo, em janeiro o interior vai receber um diesel com 1.800 ppm. Apenas em 2014 ele será 100% substituído por um com 500 ppm. O S-50 estará disponível em janeiro somente para ônibus novos das capitais São Paulo e Rio. Até 2011, ele será estendido a Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e as regiões metropolitanas de São Paulo, da Baixada Santista, Campinas, São José dos Campos e Rio de Janeiro.
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