Ele diz que de 90% a 95% dos veículos novos, alvo inicial da fiscalização, serão aprovados
Murgel Branco admite que prefeitura atacar o "lado mais fácil" ao excluir da inspeção deste ano veículos fabricados até 2002, os mais poluidores
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Prometida há 15 anos e tida por ambientalistas como uma das principais medidas para reduzir as mortes causadas pela poluição do ar na capital paulista, a inspeção obrigatória para os carros deverá aprovar de 90% a 95% da frota-alvo neste ano -só deverão ser reprovados carros que estiverem com o catalisador [filtro no escapamento do veículo] adulterado.
A estimativa é do consultor responsável pela pesquisa e desenvolvimento do programa de inspeção, Gabriel Murgel Branco, que trabalha para a Controlar, empresa contratada pela Prefeitura de São Paulo para implantar a inspeção.
O consultor admite que a inspeção que começa em fevereiro irá atacar o "lado mais fácil" da frota de 6,3 milhões de veículos da cidade -os carros movidos a gasolina, álcool e gás fabricados entre 2003 e 2008, já que a prefeitura excluiu os fabricados até 2002- e só deverá reprovar veículos que tiveram o catalisador retirado por falta de manutenção ou adulteração. Há quem pense, diz Branco, que a retirada do catalisador aumenta a potência do veículo. "Sem o catalisador, o carro emite mais ruído, mas o aumento da potência é só uma impressão."
Segundo ele, os resultados do sensoriamento remoto [medição das emissões de poluentes com os veículos em movimento] feito em cerca de 1 milhão de carros em 2008, para definir as regras deste ano, mostram que só entre 5% e 10% da frota-alvo tinha nível de emissões muito acima do permitido.
Já entre os fabricados até 2002, o índice de carros que poluem acima do normal é bem maior: cerca de 20%, diz Branco. Um carro ano 1990, por exemplo, emite até 20 vezes mais poluentes que os modelos que serão inspecionados neste ano. "Mas a maior parte da frota que circula atualmente tem idade média de três anos."
Ontem, a prefeitura fixou em 1% o limite máximo de emissão de monóxido de carbono pelos carros fabricados desde 1997 -20 vezes mais do que a regulagem com que os veículos saem de fábrica. "Veículos modernos [de 2003 a 2008] emitem menos porque têm catalisador bom. A fiscalização é para ver se o usuário não tirou o catalisador de lá." Já para os veículos fabricados entre 1989 e 1996, os limites são mais generosos, de 3% e 4%.
De acordo com o consultor, "para o carro que tem manutenção normal e não foi adulterado, vai ser muito fácil passar". A aprovação então será quase total? "É garantido", afirmou Branco. "Esse primeiro ano é de conscientização pública. Só não vai passar quem tiver adulterado o carro."
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