Secretaria da Segurança diz que tempo de remoção é normal; à noite, ciclistas fizeram uma homenagem a ela no local
Para o presidente do Clube dos Amigos da Bike, o caso representa a briga por espaço que os ciclistas de SP enfrentam diariamente
DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"
A ciclista Márcia Regina de Andrade Prado, 40, morreu atropelada no fim da manhã de ontem na avenida Paulista. O corpo dela só foi retirado quatro horas depois. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, o motorista de um ônibus não viu a ciclista e passou com a roda traseira direita sobre Márcia, que morreu na hora.
A vítima era ativista no uso de bicicletas como forma de melhorar o trânsito e a qualidade do ar da cidade. Ela pedalava em grupo e escrevia em listas de discussão on-line sobre o tema. Em uma das mensagens, do último domingo, ela diz que seria "interessante" se carros fossem o transporte alternativo, e não as bicicletas.
Para o presidente do Clube dos Amigos da Bike, Sérgio Augusto Affonso, o caso representa a briga por espaço que os ciclistas enfrentam diariamente. Ele diz que, na Paulista, os ciclistas usam a segunda faixa; a primeira é de ônibus e a terceira, de carros e motos.
Demora
O acidente ocorreu às 11h50, perto da alameda Campinas. Segundo a SSP, a Polícia Civil chegou às 12h05, e a perícia, às 13h30. Meia hora depois, o local foi liberado para a remoção do corpo, mas o carro do IML (Instituto Médico Legal) só chegou quase duas horas depois, às 15h45. Segundo a CET, o trecho foi liberado às 16h05. Motoristas enfrentaram mais de 1 km de lentidão.
Para a assessoria da SSP, a remoção do corpo está dentro dos padrões. A média é de três horas a partir do atendimento das polícias Militar, Civil e Científica até a chegada do IML -cuja unidade central fica a 2 km.
O motorista do ônibus responderá por homicídio culposo. Em 2006, último levantamento disponível da CET, 85 ciclistas morreram no trânsito em SP. Ontem à noite, cerca de 50 ciclistas fizeram um ato em homenagem à ciclista no local do acidente.
Ativista dizia que em SP tudo é para os carros
DA REPORTAGEM LOCAL
No final do ano passado, logo após fazer aniversário, Márcia percorreu os 226 km que separam SP de Ubatuba, litoral norte. Foi de bicicleta, enfrentando neblina, chuva e frio.
"Ela passou a se envolver mais com bicicleta há um ano e meio", conta o arquiteto Alexandre Salles, 33, amigo de Márcia.
Formada em comunicação, era massoterapeuta (tratamento com massagem). Apaixonada por animais (tinha gatos), morava sozinha, fazia atendimentos em casa, no Ipiranga (zona sul), e andava só de moto e bicicleta.
"Ela era antenada", diz Salles, que a descreve ainda como "saudável". No fim do ano passado, Márcia enviou e-mail à Folha, em que dizia: "De fato, encarar esse trânsito assassino e agressivo de bicicleta não é para qualquer um, ainda mais em uma cidade onde tudo é feito e pensado para os carros".
(ESTÊVÃO BERTONI)
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