“Paulistanos se sentem ‘fora’ da cidade” – Jornal da Tarde

 

Pesquisa mostra que 1/3 dos moradores da capital acham que não fazem parte de São Paulo

VITOR HUGO BRANDALISE, vitor.brandalise@grupoestado.com.br

A terra das oportunidades, na opinião de seus próprios habitantes, é também terra da falta de identidade.

Divulgada ontem, a pesquisa Viver em São Paulo, realizada pelo Ibope em parceria com a ONG Movimento Nossa São Paulo, mostrou que um em cada três moradores da capital não se sente acolhido pela comunidade em que vive. Para especialistas, trata-se de típica deterioração das relações entre as pessoas e com a cidade, numa metrópole que enfrentou crescimento desordenado, sem o investimento necessário em infraestrutura.

“As relações foram esfaceladas. Em 1930, a cidade tinha 900 mil habitantes. Hoje, são 11 milhões e os problemas continuam os mesmos: saneamento básico, acesso a educação e saúde. Mas a escala é infinitamente maior. A população devolve essa agressividade”, afirma o professor Nestor Goulart Reis Filho, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, autor do livro São Paulo: Vila, Cidade, Metrópole. “A noção de bairro, em que a pessoa sabe onde almoçar, onde comprar suas frutas, praticamente não existe mais, especialmente na periferia. O resultado é uma relação agressiva em que ninguém repõe nada, ninguém se importa.”

A pesquisa – que entrevistou 1.512 de todas as regiões da capital entre 18 a 29 de novembro do ano passado – também mostrou que 28% da população vê São Paulo apenas como lugar para morar, sem criar vínculos com a cidade.

“Reflexo também da falta de oportunidades para participar da vida pública”, diz Goulart.

O resultado, como aponta também o idealizador da pesquisa, o diretor do Movimento Nossa São Paulo, Oded Grajew, é que 46% dos entrevistados disseram que mudariam da cidade se tiverem a oportunidade. “A relação é de amor e ódio. Todos querem trabalhar aqui, mas, no primeiro feriado, correm para o mais longe que puderem.”

Em relação às últimas pesquisas, uma nova preocupação surgiu entre os paulistanos: a crise econômica. Em janeiro do ano passado, 45% dos entrevistados se disseram preocupados com o desemprego – agora, foram 58%. A sensação de diminuição da renda familiar também aumentou – na pesquisa anterior, 15% disseram temer diminuição de renda; na pesquisa de novembro, a proporção subiu para 27%.

O trânsito continua com os mais alto índices de rejeição entre os paulistanos. Absolutamente todos os itens relacionados ao tema – faixas de pedestre, sinalização, tempo de espera em ponto de ônibus, tempo gasto para se deslocar, entre outros – foram reprovados por mais de 58% dos entrevistados. No “trânsito geral”, 83% se disseram “muito insatisfeitas”. A pesquisa também apontou que o tempo médio para se deslocar na cidade é de 2 horas e 47 minutos.

Apesar dos problemas, de maneira geral, o paulistano se diz “satisfeito” com sua cidade – 63% acham a vida “interessante” na capital e 60% dizem se sentir bem quanto ao que fizeram em São Paulo.

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