“Trânsito, inflação e desemprego deixam paulistano mais pessimista, diz pesquisa” – O Globo

 

Flávio Freire, O Globo; SPTV

SÃO PAULO – Não é só o caótico trânsito que tira o humor e impõe ao paulistano uma visão menos otimista em relação à cidade. Embora a maioria dos moradores da capital paulista queira continuar vivendo no município, já que 63% chegam a considerar suas vidas "muito interessantes", a desigualdade social, o desemprego e a inflação são apontados como algumas das mazelas que tendem a crescer daqui para frente em São Paulo. Encomendada pelo movimento Nossa São Paulo, pesquisa Ibope realizada em novembro último com 1.512 moradores revelou um panorama
sobre a percepção do paulistano em relação aos fatores que mexem diretamente com a sua rotina.

A começar pelo trânsito, o trabalhou revelou um dado alarmante sobre o tempo de locomoção na cidade. Em média, uma pessoa leva 2 horas e 47 minutos no deslocamento entre sua casa, o trabalho, a escola e outros afazeres do dia-a-dia.

Dos 1.512 entrevistados, 19% afirmam gastar de 2 a 3 horas todos os dias para se locomover de um ponto a outro da capital.

Ainda segundo a pesquisa, o paulistano dá uma nota média de 3,3 para o trânsito e 5,4 para o transporte público, mesma nota para a frota de ônibus municipais. Caso o transporte público fosse melhor na cidade, 72% dos entrevistados disseram que deixariam o carro em casa e seguiriam para o trabalho ou escola de ônibus, trem e metrô.

Mas foi na comparação com a última pesquisa, realizada em janeiro do ano passado, que o paulistano deu sinais de que sua expectativa sobre sua situação na cidade deve piorar, já nos próximos seis meses. De acordo com o levantamento, se em janeiro 56% dos entrevistados apontavam para o crescimento da inflação nesse período, agora o índice chega a 62%. Em relação ao desemprego, o patamar de percepção subiu de 45% para 58%, enquanto no quesito desigualdade social foi de 41% para 46%.

Ainda assim, revela a pesquisa, o paulistano gosta de morar na cidade. Além dos 63% que consideram sua vida muito interessante, o Ibope revela que 49% afirmaram experimentar "momentos de alegria intensa" freqüentemente, enquanto 41% dizem que "normalmente" realizam aquilo que querem.

A pesquisa foi realizada em meio à eleição municipal. O fundador do movimenta Nossa São Paulo, Oded Grajew, acredita numa espécie de contaminação por conta da euforia eleitoral.

– No Brasil não dá para se queixar de monotonia. De dois em dois anos temos eleição. Em, 2010 já vai ter campanha de novo. Todo ano vai ter contaminação, seja pela eleição ou mesmo (por causa) da crise internacional.

O importante é a pesquisa acompanhar os indicadores do município – disse Grajew.

Em relação aos aspectos mais positivos da cidade, 26% dos entrevistados afirmaram que as "oportunidades" oferecidas em São Paulo estão em primeiro lugar. Em segundo ficou o mercado de trabalho, com 16%, seguido por lazer e entretenimento (13%). Lideram o ranking dos aspectos negativos de São Paulo a violência e a criminalidade, com 58%.

O trânsito é visto como um dos grandes problemas da cidade por 12%, segundo a pesquisa.

– O trânsito é mesmo um grande violão. Se uma pessoa trabalha oito horas, dorme outras oito e fica três no trânsito, pouco tempo resta para ela fazer suas coisas na cidade, não? – diz Márcia Cavallari, pesquisadora do Ibope.

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